“E daí?”

Leitura – e visão – imperdível nesta manhã de sábado a reportagem do The New York Times sobre o drama dos efeitos do novo coronavírus na Amazônia, com fotografias impressionantes de Tyler Hicks, vencedor do Prêmio Pulitzer de Fotografia de 2014 e com vasta experiência em coberturas de guerras e dramas himanos. Curiosamente, Tyler nas ceu em São Paulo, embora tenha se formado em Boston e viva hoje no Quênia. Os textos são de Julie Turkevitz e da repórter brasileira Manuela Andreoni, com gráficos animados de Jeremy White.

O desespero de famílias como a de Gertrude do Santos – a da foto – é descrito com crua delicadeza na publicação, que está aberta ao acesso público:

Gertrude Ferreira Dos Santos morava no extremo leste da cidade [de Manaus], em um bairro pressionado contra a água. Ela costumava dizer que sua coisa favorita no mundo era viajar de barco pelo rio. Com a brisa no rosto, ela se sentia livre.
Então, em maio, a senhora dos Santos, 54 anos, adoeceu. Dias depois, ela chamou seus filhos para a cama, fazendo-os prometerem ficar juntos. Ela parecia saber que estava prestes a morrer.
As equipes funerárias trabalhavam dia e noite para coletar corpos, incluindo o da Sra. Dos Santos. Muitas pessoas com sintomas do vírus preferem ficar em casa, com medo do hospital e morrendo sozinhas.
Houve tantas mortes em Manaus que a cidade cortou novos cemitérios da floresta densa.
Eduany, 22 anos, sua filha mais nova, ficou com ela naquela noite. No início da manhã, quando Eduany se levantou para fazer uma pausa, sua irmã Elen, 28 anos, implorou para que ela voltasse. A mãe deles parou de respirar. As irmãs, desesperadas, tentaram ressuscitar boca a boca. Às 6 horas da manhã, com o sol nascendo sobre a cidade, a Sra. Dos Santos morreu em seus braços.
Quando homens de traje de proteção branco chegaram mais tarde para levar seu corpo, as irmãs começaram a lamentar.
Dos Santos era mãe solteira. A vida nem sempre foi fácil. Mas ela tinha mantido um sentimento de encantamento, algo que suas filhas admiravam. “Em tudo o que ela fez”, disse Elen, “ela estava alegre.”
O atestado de óbito de sua mãe listou muitas condições subjacentes, incluindo problemas respiratórios de longa data, de acordo com as mulheres. Ele também listou insuficiência respiratória, indicador importante de que uma pessoa morreu devido ao coronavírus.
Mas suas filhas não acreditavam que ela era vítima da pandemia. Certamente ela havia morrido de outras causas, disseram eles. Deus não teria dado a ela uma doença tão feia.

Gertrude é uma das mais de 85 mil pessoas que se foram para esta doença tão feia e sua família mereceu de um jornal norte-americano a atenção à sua dor.

Do presidente de seu país, apenas um “e daí? Vai morrer gente, mesmo”.

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6 respostas

  1. E daí? Essa a única marca de um cidadão que foi eleito e se considera acima de Deus e de todos. O sociopata não pára e ninguém o contem por conveniência e deboche de uns e falta de ação de outros. O Brasil purga seus pecados com essa figura na presidência.

  2. A classe média brasileira já naturalizou coisas assim. E os pobres têm seus próprios problemas em que pensar. A pausa de Bolsonaro foi para subir de patamar na luta pelo domínio completo do país. Não se pense que foi Bolsonaro quem resolveu recuar, parecer mais civilizado e mudar de tática. Cérebros muito inteligentes estão por trás dele e procuram chegar ao mesmo lugar que ele: Um estado policial como nunca houve no Brasil nem no mundo, com uma força paramilitar terrível inspirada diretamente nos Tonton Macoute do Haiti. Não há opção para os democratas brasileiros: ou lutam contra o fascismo agora, com todas as forças que conseguirem reunir, ou serão reduzidos à escravidão e verão seu maravilhoso país se despedaçar e sumir.

  3. Elon Musk acaba de admitir publicamente, que trabalhou pelo golpe na Bolívia. Eu não tenho dúvidas de que, se o jogo não virar, perderemos a Amazônia nos próximos dez anos.

    1. Se não houver intervenção(*) da comunidade internacional, vamos perder a floresta, e ganhar um grande deserto.
      (*) Boicotando a produção do agronegócio brasileiro.

  4. A permanência do ogro no poder só se explica pelo apoio que lhe é dado pelo capital, na esperança de que ele cumpra a agência neoliberal de total destruição do país.

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