Suplicy, gostem dele ou não, é gente boa. E os tempos são de gente má.

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Estou eu aqui escrevendo – daqui a pouco publico – um post sobre gente má e me chega o Marceu Vieira, com um texto sobre o Eduardo Suplicy e a falta que ele fez no Rio, hoje, quando uma tropa fortemente armada e encapuzada foi tirar os garotos e garotas que ocupavam o Ministério da Cultura.

O governo e, especialmente, a Justiça e a polícia não deveriam poder ser exercido por pessoas más.

Pelo menos não más ali, na hora da “chapa quente”, do conflito entre forças desiguais: um lado armado, blindado, de capacetes e o outro frágil, tão frágil como um homem de 75 anos.

Não discuto as ordens judiciais, mesmo discordando. Mas sua execução não pode ser no tranco, a tapa e bordoada.

Não pode ser na base do “prendo e arrebento”, a menos que queiramos voltar aos tempos do João Figueiredo que, aliás, foi o ditador da fase  houve o menos “prendo e arrebento” da ditadura.

O que são duas ou três horas a mais perto de uma mãe ferida, de uma criança agredida, de uma pessoa morta?

Suplicy pode ser ingênuo, pode dar, vez por outra, uma de “sem noção”.

Mas é um homem bom, não é um traidor e mostrou que não é um covarde, sem bravatas ou ameaças.

É, como dizia o Dr. Ulysses, um velho que não virou velhaco.

Merece o lamento do Marceu por não o termos aqui no Rio.

A prisão de Suplicy, o fim do Ocupa MinC e o tempo do ódio

A prisão do ex-senador Eduardo Suplicy pela PM de São Paulo e o fim do protesto Ocupa MinC, no Rio, pela Polícia Federal, deram ao cronista digital, na manhã deste 25 de julho, a certeza de que o Brasil vive um tempo comprido de ódio e desesperança. Um tempo que, pelo jeito, deve ainda demorar a acabar. 

Suplicy participava de um ato contra a expulsão de gente pobre de um terrenão da prefeitura com 11 mil metros quadrados, na Zona Oeste paulistana.

Prefeitura, por mais estranho que pareça, chefiada por Fernando Haddad, do mesmo PT do ex-senador.

PM, por ainda mais esquisito, comandada pelo governador Geraldo Alckmin, do PSDB, a quem o prefeito petista recorreu.

Pra quem não conhece São Paulo, cabe explicar que a Zona Oeste da cidade é composta pelas subprefeituras da Lapa, de Pinheiros e do Butantã. Segundo o IBGE, vivem ali cerca de 900 mil pessoas, cuja renda média é de R$ 2.174,55. Fica na região o maior campus da USP, por exemplo.

Contradição em forma de metrópole, mais até que o Rio do Ocupa MinC, São Paulo tem dessas coisas. A tal comunidade desocupada com truculência pela PM do tucano Alckmin a pedido do petista Haddad se chama Cidade Educandário e fica às margens da Rodovia Raposo Tavares.

De educandário, aquela porção de Brasil, localizada no bairro Jardim Raposo Tavares, não tem nada – bem como, de jardim, a região nada tem. Na Zona Oeste paulistana, convivem uma massa pobre e desafortunada e uma minoria rica e de vida sobeja.

Suplicy, um homem digno de 75 anos de idade, deitou-se no chão pra tentar conter o furor da expulsão dos sem-nada e acabou carregado por braços e pernas pelos PMs do batalhão do Alckmin. Levado numa viatura pro 75° Distrito Policial, prestou esclarecimentos e foi liberado após três horas de constrangimento.

“Se fazem isso com um ex-senador da República, imagine o que sofre a população”, ele escreveria depois um desabafo numa rede social.

Seu crime, segundo o capitão Eliel Pontirolli, “desobediência e obstrução à Justiça”; seu objetivo, segundo ele próprio, evitar um confronto ainda maior, que ferisse aquela gente.

A duas semanas do início das Olimpíadas, faltou um Suplicy no Rio, na mesma manhã, no desbaratamento do Ocupa MinC pela Polícia Federal de Michel Temer. Talvez ele conseguisse muito pouco também. Provavelmente, nada. Mas o simbolismo da sua presença e de um gesto dele, certamente, acrescentaria algo bom ao que se passou.

Uma das manifestações mais bonitas da democracia desde o fim da ditadura militar – uma outra, eu acho, foi a tomada das escolas da rede pública pelos estudantes, e ambas tão mal contadas pela imprensa dominante -, o Ocupa MinC reuniu jovens e artistas por 70 dias nos pilotis no Palácio Gustavo Capanema, no Centro carioca.

Nesse período se apresentaram ali, ou apenas discursaram, estrelas da cultura brasileira como Caetano Veloso, Erasmo Carlos, Lenine, Frejat, Arnaldo Antunes, Jards Macalé, Marieta Severo, tantos outros.

A ocupação nasceu de um protesto contra o fim do Ministério da Cultura. Depois, quando o presidente interino, pressionado, recuou da decisão, virou um grande evento permanente pelo “Fora Temer” e pela volta da Dilma.

A esta altura do campeonato nacional do ódio e da desesperança, como também foi impossível conter a expulsão dos pobres da Zona Oeste paulistana, é muito difícil acreditar na possibilidade de uma coisa ou de outra.

Faltam Suplicys pra isso. Seriam necessários muitos mais.

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15 respostas

  1. Esta será a herança desse governo, foi a Mídia que fez aflorar o ódio a intolerância, o fascismo e reintroduziu o escravagismo disfarçado, a oligarquia viu a oportunidade de assaltar a democracia em busca do poder do chicote que lhe haviam retirado pelos governos populares. Se aceitarmos voltar para seculo 18, é porque perdemos toda a dignidade e não somos exemplo para nossos filhos.

  2. … O ex-senador Eduardo Suplicy vale muito mais como senador em comparação com os atuais 50 [ou mais] (supostos(as) senadores(as) que estão na ativa – e tramando o golpe mais vagabundo da história mundial!
    50 ou mais somados!

  3. O Fascismo glorificou na Europa no séc 20 , e como dizia Millor Fernandes, toda vez que uma ideologia envelhece, ela vem morar no Brasil.

  4. Suplicy é uma grande pessoa.
    Fiquei muito desesperançoso quando vi o estado mais “rico” do Brasil preferir ver um mal intencionado no senado ao invés dele. Mas, como mais uma das surpresas desse mundão, incrivelmente isso fez com que as qualidades do senador Suplicy fossem realçadas para todo o Brasil. Quantos outros senadores sairiam daqueles salões e iriam para a rua defender o povão como já fez mais de uma vez o senador Suplicy?

  5. Nilo, você de fato é um nilo qualquer a lamber as glebas do saco do faraó: aquele coiote mor da Veja… Você não passa de um embuste manipulado: uma esculhabacão ética porque é um nazifascista; uma esculhabacão moral porque é violento; e uma esculhabacão cognitiva porque é uma ignorância em pelo…Como disse com clareza a Marilena Chauí…

  6. Estava saindo para pegar minha Deusa no trabalho e infelizmente trocando de canal fui obrigado a parar para ver Suplicy perdendo tempo com Datena,empregado do canal fálido Bandeirantes e apoiador do golpe,dizendo que Haddad deveria ter feito casas antes de sair. Esse salafrário foi convidado para ser candidato a prefeito pelo PP,o partido mais melado na A Farça a Jato que destruiu a Petrobrás junto com o PMDB,e o nefasto apresentador desistiu,já que acha melhor consertar o mundo agitando e fingindo que tá preocupado com o povo e o Brasil dos estúdios da quebrada(graças a Deus!) rede Bandeirantes.

    Já que é fácil resolver tudo no gogó,porque o agitador não saiu candidato a prefeito,hein?

    Suplicy sempre terá ou teria meu voto,já que não voto mais em SP,mais é um bestão em perder tempo com gente igual Datena e tv Bandeirantes,por exemplo.

  7. “Não discuto as ordens judiciais, mesmo discordando.”
    Parece o argumento de Eichman, analisado por Hannah Arendt. Com uma derrapada destas, Brito, é melhor nem se falar em luta pós-impeachment. Cumpra-se e pronto.
    Que bela resistência teremos pela frente… Ou será que a resistência tem de ser sempre dos ingênuos???

    1. Não é cumpra-se e pronto, e escrevi o contrário. Muito menos deixo de questionar decisões judiciais. O argumento da desocupação era o risco de desabamento e eu, que nunca vi o local, não sou geotécnico e estou a 500 km de distância não vou discutir se os argumentos de segurança expostos e acolhidos pela Justiça são justos ou não. Sejam ou não, não é a forma de tratar uma comunidade. E não acho que alguém possa duvidar da capacidade de resistência de quem mantém, sozinho e sem patrocínio algum, em qualquer momento, um blog como o Tijolaço. Não preciso de nada, Edgar, que não seja a leitura do post seguinte para provar que não endeuso o Judiciário. Grande abraço

  8. O artigo erradamente afirma que o Prefeito pede o policiamento ao governador.

    A página do Haddad Tranquilão explica o processo:

    “Para além disso, muita polêmica se criou sobre o fato da prefeitura ter ou não pedido a reintegração de posse nesse caso. Por isso, eu explico como as coisas acontecem.
    ??O procedimento nesses casos é o seguinte:
    Sempre que há uma ocupação a defesa civil vai lá para ver se todo mundo tá em segurança, avaliando o terreno e dizendo, em laudo, se é área de risco 1, 2, 3 ou 4, de acordo com o risco que oferece as pessoas. Lá é uma Área de risco 4 (R4), onde a vida das pessoas estão em risco máximo por possíveis desmoronamentos, desabamentos ou alagamentos. A lei obriga o município a fazer o pedido de reintegração de posse sob pena de ser responsabilizado por qualquer tragédia que possa ocorrer no local, podendo, o prefeito ser condenado até por improbidade.
    A partir daí o processo rola na justiça do estado, terminando com uma negociação (concedido o pedido de reintegração de posse da defesa civil) entre a justiça do estado, a PM e o pessoal que está lá. A prefeitura pode tentar amenizar os efeitos da reintegração de posse, garantindo, por exemplo, a inscrição desse pessoal em programas habitacionais do município. E foi o que ela fez.
    O Suplicy, que é um cara espetacular, foi acompanhar a reintegração de posse e garantir que transcorresse em paz. Foi tratado como a gente viu nas fotos. Pena que a única linguagem conhecida pela polícia Tucana seja a da violência.
    Suplicy se soma aos estudantes, aos sem tetos, a jornalistas que perderam a visão e a outros milhares de jovens pobres e negros da periferia que são vítimas da violência policial todos os dias. ?#?Suplicymerepresenta?”

  9. Suplici deveria ter sido o vice da Dilma e evitaria tida essa vergonha dos petistas que votaram no Temer !!!

  10. Me desculpe,Brito, mas só queria uma confirmação de que, quando o texto veiculado não aparece de imediato nas postagens é porque foi bloqueado por você. Assim, deixo de ser insistente e respeito sua opção por não veicular a resposta, se for este o caso. Meus respeitos.

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