Singer: “ação contra universidades é orquestrada”

goring

Embora com platitude e delicadeza exageradas, diante da monstruosidade que está ocorrendo, vale a leitura do artigo de André Singer, hoje, na Folha, sobre a perseguição criminosa da Polícia Federal e do Judiciário contras as universidades públicas. A frase, do dramaturgo alemão Hanns Johst, acabou “virando”, por identidade, como sendo de Herman Göring, chefe da Gestapo. Começamos, infelizmente, a entrar neste terreno.

É hora de defender a universidade

André Singer, na Folha

Na quarta (6), três meses depois do episódio que levou o então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ao suicídio, a Polícia Federal (PF) resolveu repetir a dose com o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O procedimento foi o mesmo. Agentes chegam de surpresa à casa da vítima, que nunca fora intimada a depor, cedo de manhã, e a levam, sob vara, para alguma instalação policial.

O engenheiro Jaime Arturo Ramirez teve mais sorte do que o advogado catarinense Luiz Carlos Cancellier, sendo liberado após algumas horas. O segundo, submetido à humilhação de algemas, correntes nos pés, desnudamento, revista íntima, uniforme de presidiário e a cela onde teve que dormir, matou-se 15 dias mais tarde.

Ao deixar as dependências da PF, Ramirez, levado ao mesmo tempo que outros seis quadros da UFMG, fez uma declaração sucinta: “Fomos conduzidos de forma coercitiva e abusiva para um depoimento à Polícia Federal. Se tivéssemos sido intimados antes, evidentemente teríamos ido de livre e espontânea vontade”. Alguém duvida?

Segundo os documentos disponíveis, o Ministério Público foi contrário à condução coercitiva. Mas a PF insistiu, e a juíza encarregada acatou a demanda, alegando “possibilitar que sejam ouvidos concomitantemente todos os investigados, (…) impedir a articulação de artifícios e a subtração de provas”. Sem qualquer justificativa consistente, a direção da universidade, tal como havia ocorrido em setembro na UFSC, foi tratada como uma quadrilha de assaltantes, justificando o aparato —84 policiais— destinado a capturá-los.

Na realidade, de acordo com o reitor de uma instituição congênere, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a onda de criminalização dos campi começou no final de 2016, quando “a Polícia Federal irrompeu na UFRGS [a federal do Rio Grande do Sul], em vista de uma suspeita de fraude em um programa de extensão”. Em fevereiro de 2016, a própria UFPR foi atingida: 180 agentes cumpriram vários mandados de prisão e oito conduções coercitivas. Depois veio a prisão de Cancellier, a condução de Ramirez e, para cúmulo, mais uma incursão semelhante, na quinta, de novo na UFSC.

Reparem nos nomes das operações sequenciais da PF: “Research”, “PhD”, “Ouvidos moucos”, “Esperança equilibrista” e “Torre de Marfim”. É óbvio que estamos diante de uma ação orquestrada e arbitrária, usando os mecanismos de exceção abertos pela conjuntura política, com o objetivo de desmoralizar o sistema público de ensino superior no Brasil.

Se a sociedade civil não for capaz de superar divergências e se unir na defesa da universidade, teremos perdas irreparáveis. Não só na educação como na democracia.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

8 respostas

  1. Boa tarde,

    A esquerda brasileira tem que entender e rápido que a sociedade civil, não tá nem ai para as universidades ou para o povo com educação(cultura). Um povo fácil de manobra é analfabeto e não precisa de universidade. O pobre que tem que se unir pelas universidades brasileiras e enxerga nas universidades um trampolim para o fim da escravidão deles e de seus semelhantes.

  2. Boa tarde,

    o que tá em jogo e sobre ataque é o povo brasileiro humilde! Temos que defender o Brasil… Sabem porque gosto da Policia por que esses seres não veem que estão salvos momentaneamente, mas tão colocando seus filhos na escravidão.

  3. “Nas colônias, a infra-estrutura econômica também é uma superestrutura. A causa é efeito: você é rico porque você é branco, você é branca porque você é rica “. Frantz Fanon

  4. Achei muito feliz o uso do péssimo exemplo do Goering. Teria ele o perfil do nazi padrão? Incompetente, sem cultura e extremamente corrupto. Acho até que, antes de considerar esse ou aquele ou aqueles exército(s) responsável(is) pela derrota alemã na segunda guerra, temos que agradecer em grande parte à incompetência e a corrupção de Goering. Afinal, a Luftwaffe foi sendo sucateada no decorrer da guerra e no final não fazia frente alguma aos ataques.
    Quanto ao ataque às universidades brasileiras, toda essa espetaculização de ações são altamente contraproducentes, só um imbecil muito tapado não consegue enxergar isso. E vai além de contraproducentes, acaba se tornando criminosa quando prende injustamente um representante de uma universidade, como aconteceu no caso do reitor da UFSC.

  5. Nem durante a ditadura estas ações ocorreram. Um único fato foi o da invasão da PUC-SP por aquele maluco Erasmo Dias.

  6. A orquestração é mais ampla, não visa apenas a Universidade Pública mas todo alvo que possa representar resistência ao golpe. Haja vista as milícias da “escola sem partido” e o ataque à Tv Brasil no Rio de Janeiro. Este por meio de atos pretensamente legais mas nem por isso menos violentos.

  7. O que parece que ninguém ainda entendeu é quê, assim como aconteceu com a Petrobras, primeiro vem a difamação, depois a entrega do nosso patrimônio. As universidades públicas são a bola da vez no processo de privatização.

  8. Não tem como lutar contra bandidos, se eles forem a lei e a lei for a bandidagem. Um país em que um corrupto da mala e chefe de quadrilha segundo o PGR, escolhe o ministro da justiça e o chefe da polícia, há de se esperar o que?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *