Petróleo, Noruega e Reino Unido: o estatal milionário e o liberal sem tostão

noruega

Quarta-feira passada, cada norueguês se tornou um milionário – sem ter que levantar um dedinho sequer. 

Eles devem isso ao seu litoral, e a uma enorme dose de bom senso. 

Desde 1990, a Noruega foi fazendo seu caixa a partir do óleo e do gás do Mar do Norte, em um fundo para o futuro. (…)

Na semana passada, o saldo deste fundo atingiu um milhão de coroas para cada um dos 5 milhões de noruegueses, ou perto de US$ 163 mil (R$ 383 mil).

O texto acima é o início de uma reportagem do inglês  The Guardian, publicada esta semana que, logo a seguir, pergunta porque os ingleses, que começaram a explorar o petróleo do Mar do Norte ao mesmo tempo que os noruegueses, no final dos anos 70,  não têm praticamente nada acumulado pelos bilhões de barris que foram extraídos do leito marinho.

Para onde foi o dinheiro? “Virou corte de impostos para os ricos ou foi desaguado nas paredes das concessionárias de veículos ou dos agentes imobliários”, lamenta o Guardian.

O economista-chefe da PricewaterhouseCoopers, John Hawksworth, admite que “não temos quaisquer novos hospitais ou estradas para mostrar: o investimento líquido do setor público caiu de 2,5% do PIB no início da era Thatcher a apenas 0,4% do PIB até 2000”. E ele explica o destino do dinheiro: “A resposta lógica é que o dinheiro do petróleo permitiu baixar os impostos não petrolíferos”.

Claro que os sobre a renda e o capital.

Enquanto isso, a Noruega se tornou o maior PIB per capita entre os países da região, como você vê lá no gráfico. À frente, inclusive dos “paraísos” da Dinamarca e da Suécia. E muito à frente dos arrogantes ingleses.

O Fundo do Petróleo Norueguês é, hoje, o dono de 1% de todas as ações do mundo, em valor.

Equivale a 1,8 vezes o produto interno bruto do país.

Não que eles não gastem o dinheiro do petróleo.

Gastam, inclusive o do fundo, mas apenas 4% ao ano, menos do que os rendimentos.

A riqueza veio da atividade exploratória, feita em regime de partilha e com uma empresa estatal fortalecida, a Statoil, que desenvolveu tecnologia e indústria no até então atrasado e pesqueiro país. Hoje, a sua empresa busca petróleo em todo o mundo e o país exporta tecnologia.

Mas os noruegueses têm outra estatal: a Petoro, a Petrosal deles, que recolhe a parte estatal do petróleo e a transforma em dinheiro para o Fundo.

Trago esta história, sugerida pelo leitor Ernesto, para que os amigos e amigas fiquem atentos, quando começar a entrar os recursos do pré-sal, contra os discursos de que o dinheiro deve ser direcionado para “aquecer o mercado”, cortar impostos e distribuir perdulariamente aos municípios.

Ou que andaríamos muito mais rápido se o país permitisse mais liberdade às multinacionais, não exigindo participação da Petrobras, cotas de partilha e alto conteúdo nacional nos equipamentos exploratórios.

A obra dos “eficientes” neoliberais do petróleo do Mar do Norte está lá, bem marcada no gráfico sobre o PIB per capita do Reino Unido.

O modelo escolhido pelo Brasil para o pré-sal é o norueguês e também está lá onde ele levou o pais em quarenta anos.

O país que, mais que seu, é dos seus filhos e dos seus netos.

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6 respostas

  1. Eu preferiria viver de catar papelão no lixo a ter um emprego como o da Míriam PiGão e do Sad N’ Berg. Ganhar a vida vendendo mentiras diariamente, para mim, não daria.

  2. Fica dificil saber se é por maldade, ou desconhecimento.
    Ou por serem escravos de suas próprias mochilas.

  3. Exatamente. Existe o risco da chamada “doença holandesa”. É o inflacionamento da economia causado pelo excesso de dinheiro dos royalties. Pode ser que o dinheiro dos royalties se empregado totalmente possa desequilibrar, inflacionar a economia e sobrevalorizar a moeda nacional. A Noruega não gasta o dinheiro dos royalties por causa desse risco de inflacionamento. Aplica tudo no fundo petróleo e utiliza 4% dos dividendos desse fundo.

  4. IMRE KERTESZ, o Húngaro que ganhou o Nobel de Literatura em 2002, disse “NÃO ENTENDEMOS O MUNDO PORQUE NÃO É ESSA A NOSSA TAREFA NA TERRA”.

    Me pergunto, como pode, pessoas,muitas dos mais altos calibres cultural, viajados, trilíngues, conhecedores da vida, E AINDA ASSIM SE OPOREM AO GOVERNO ORA ESTABELECIDO E ACIRRADO DEFENSOR DA SOBERANIA DE SEU PAÍS, E DO BEM ESTAR DO SEU POVO.

    Como pode, como posso, como pedem, pessoas tidas como referências e de palavras respeitadas, coadunarem com o ex-Presidente da Republica, o Fernando Henrique, quando ele diz que o Brasil deveria voltar a tirar os sapatos para os Norte Americanos. Quando li sobre esse assunto, dias atrás, fiquei a imaginar o cache pago pela Fundação Ford a esse sincofanta, traidor, vendido, nojento, verme.

  5. Por mais que se prove que o modelo liberal, modelo que na verdade hoje representa uma elite cada vez mais rica em nome da redução de impostos e toda essa balela, é nocivo ao país como um todo, pessoas como Miriam Leitão, Sardenberg nunca se curvarão a isso. São pagos para pregar uma ideia, um ponto de vista. É o trabalho deles. Deve eles acabar acreditando nisso, mas isso é problema deles.

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