O terço do meio

Em meio à coleção de fracassos de seus primeiros seis meses como presidente, há algo em que se tem de reconhecer que Jair Bolsonaro tem sido bem sucedido: conservar o clima de radicalização e ódio político que alicerçou sua vitória eleitoral em outubro passado.

Os números da pesquisa Datafolha publicada hoje só ratificam a tendência que, desde o início, tem sido quase uma unanimidade avaliar: a extrema direita que ele representa se mantém unida no terço da população em que ela se tornou a única força política sobrevivente enquanto a oposição a ela, depois do baque inicial da derrota se recompõe, reunindo também um terço dos brasileiros.

Nos gráficos que reproduzo, é sintomático que em todas as regiões cresça a reprovação a Bolsonaro e, exceto no Nordeste – onde já era e é a mais alta – acima da margem de erro da pesquisa, em todas elas buscando o terço dos eleitores a que me referi antes.

A chave da evolução do processo político está, portanto, segue sendo o terço restante, que pendeu para Bolsonaro no processo eleitoral mas não foi – e nem se tentou, aliás – base política para um governo que pretendesse formar maioria na opinião pública. É um grupo que segue órfão de partidos e de lideranças que lhe possa servir de referências e que tende, numa primeira análise, a ir migando lentamente para o campo da oposição, já que o situacionismo vai consolidando a sua tendência de seita.

Este “terço do meio” tem, sim, uma tendência perceptível de caminhar para a reprovação a Bolsonaro, que se expressa na continuidade dos 61% do quesito “fez menos do que se esperava pelo país”.

Este blog, faz tempo, tem insistido que não há, até agora, desgaste expressivo no “núcleo duro” do bolsonarismo, alimentado quase que diariamente com medidas espalhafatosas, preconceitos, xingamentos e desequilíbrios. Este terço que sempre se pautou em manter o status quo de injustiça neste país nunca deixou de existir no eleitorado, desde Fernando Collor e mesmo de antes do período ditatorial, a partir das eleições de 1946.

A diferença está, apenas, no grau de selvageria que a falta de opções “centristas” lhe induz.

Nossa batalha é, portanto, pelo “terço do meio”, aquele no qual, com persistência e êxito, a mídia e a manipulação do Judiciário em boa parte conseguiram fazer Lula deixar de ser a referência aglutinadora que foi nas sucessivas vitórias eleitorais.

O desmascaramento deste processo, a redução de seus ícones – a começar por Sérgio Moro – e a deslegitimação dos métodos que se usou para afastá-lo da luta política são, por isso, a chave do futuro político do Brasil.

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18 respostas

  1. Brito, não é a seita de Bozo. É a mídia. O tratamento que ele recebe dela é absurdo. Se nos atermos a um unico ponto – cocaina em avião presidencial – qualquer outro Lula já teria massas de populares segurando tochas na porta do palácio do Planalto. Lembro muito bem quando o avião da TAM entrou no galpão da empresa em Congonhas – essa mesma mídia jogou toda sua fúria em Lula, que estava a quatro ou cinco níveis de responsabilidade do acidente. Já uma quadrilha usando as viagens mensais de Bozo para traficar parece uma traquinagem para o JN, ou o Estadão. É lógico que a massa da classe média não tem como se revoltar, se seus ‘líderes’ não se revoltam.

    1. Concordo em gênero, número e grau. Por ativas (falando) e por passivas (silenciando) a Grande Imprensa tenta definir, interfere e prepara o palco onde a política se desenvolve. Quer dizer que ela é tudo? Certamente não. Se dependesse dela não teria havido 10 anos de governos petistas e quatro vitórias eleitorais dessa formação política. Mas é muito importante para pelo menos não levar ela nos nossos cálculos. Agora que existe uma espécie de reserva de truculência política na sociedade é ponto pacífico e desde de sempre. A novidade aqui é a plutocracia depender desses setores para impor seu projeto de poder. Insisto isso não é sinal de força mas de fraqueza deles todos que surfam na nossa paralisia.

      1. O grande problema de fundo é a crise estrutural do capitalismo que não permite uma nova fase de acumulação do capital…Estado e Mercado são faces da mesma moeda do sistema economico produtor de mercadorias . E vai ficando comprovado que um não consegue viver sem o outro….A mistura de desemprego tecnologico (em escala exponencial), excesso de produção e derretimento de mercados consumidores, joga o sistema numa crise autofágica, onde classes sociais e países disputam a tapa os resultados minguantes….A truculencia da extrema-direita (e a raiva contra a melhoria de vida dos pobres em geral) é um exemplo notório do desespero de classes sociais disputando o que considera “a perda de seus privilégios e direitos” para outros concorrentes…

        1. Há muitos capitalismos e tenho sérias dúvidas sobre a tal estruturalidade dessa crise. Não vejo crise estrutural mas expansão capitalista na China e no sudeste asiático. O que vejo é algo que ocorre toda vez que uma nova potência econômica emerge, desafia e desloca a antiga potência dominante. Assim ocorreu de certa forma quando os EUA e o dólar substituíram no século XX o domínio que o Reino Unido e a libra desempenharam no século XIX. Falta ainda a liderança econômica, e mais ainda uma moeda e uma força militar para a China desempenhar no século atual o papel dos EUA no século passado. Só no Brasil ainda se discute Estado e mercado como se fossem oposições. O próprio capitalismo cria e resolve as crises de acumulação que ele próprio cria. O único limite para esse modo de produção é sempre e isto sim a destruição do homem e da natureza.

    2. Concordo. Núcleo duro bolsonarista, o dos fascistóides empedernidos, é 10 a 15% no máximo. O resto é idiota útil que se informa pela Globo e chiqueiros como o antagonista.

      1. Sim, mas são leitores de manchetes, e não do contexto, de matéria, conteúdo. São um bando ignorantes línguas de loro.

    1. Que absurdo! Imagina até a terceirização ele defende, é um escroto. Vamos terceirizar a justiça isso sim daria jeito no país.

  2. Concordo com a ponderada análise expressa nesta nota do editor do Tijolaço, e, relação aos “terços” da sociedade. Mas reitero que o apoio ao bozo-nazi-milicianismo pode não ser esse que a “pesquisa” DataFolha quer nos fazer crer. Por isso republico comentário que fiz hoje mais cedo, sobre a primeira matéria que trata da “pesquisa” do DF.
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    Há sábias e célebres frases, há muito no domínio público, que em resumo dizem o seguinte: “Não se devem subestimar os inimigos nem sobrevalorizar as conquistas ou vitórias”. A meu ver vale também o dual desse enunciado, ou seja: “Tão importante quanto não subestimar adversários e inimigos é não sobrestimá-los”. E por que digo e escrevo isso? Basta uma simples analogia para entender: quando o sol está inclinado, como durante o inverno, a sombra projetada é MUITO maior que o objeto real; da mesma forma os adversários e inimigos tentam projetar sobre nós tamanho e força que, de fato, não possuem. É assim que percebo o bozonarismo e o nazifascismo em Pindorama. Jamais desprezei que entre 1/5 e 1/4 da população (às vezes uma pouco mais, às vezes um pouco menos, mas com a média histórica nesse intervalo) flerte com esses métodos autoritários, violentos e discriminatórios, que pregam o aniquilamento dos adversários, por eles considerados “inimigos”. Mas nunca sobrestimei esse segmento, mesmo nos períodos mais críticos, como o que o Brasil vive desde 2013, com ápice em 2018, quando por meio de uma eleição farsesca e fraudulenta o ex-tenente e terrorista, expulso do exército, foi levado à presidência da república.

    Sempre duvidei e continuo a duvidar que de Bozo e muitos do séquito nazifascista eleitos para governos estaduais e parlamentos (nos municípios, nos estados e na União) tenham tido, efetivamente, a votação que um sistema não auditável de urnas eletrônicas – que comprovadamente permite a identificação dos leitores e transferência de votos de uma candidato para outro, sempre controlado por militares oriundos do antigo SNI e por uma família oligarca do judiciário, Thompson Flores – lhes atribuiu nos pleitos de 2016 e 2018. Basta observar que nos estados do Sudeste e do Sul essa máfia empoderou governadores de direita ou extrema direita, além de retirar o mandato de parlamentares (senadores e deputados) que se opunham ao projeto vira-latas, de desmonte e entreguismo do Brasil. Quem no RJ ou em MG conhecia essas figuras grotescas que hoje ocupam os palácios de governo nesses estados? Roberto Requião, em qualquer sondagem de intenção de votos, tinha mais de 60% dos validos, uma semana antes da eleição.

    A FSP, que controla o DataFolha, em 2016, fraudou uma pesquisa realizada pelo instituto. O editor deste blog e o do Intecept denunciaram a trampa e o instituto e seus controladores voltaram atrás, divulgando os dados antes omitidos ou manipulados, para que outros veículos de mídia pudessem usá-los e fazer análises. Com um precedente desses é preciso ter os dois pés atrás e colocar cabelo e barba de molho, pois não se pode confiar num instituto e num jornal que SEMPRE apoiou golpes de Estado e que há três anos praticou uma fraude dessas. Enfim: a credibilidade dessa pesquisa do DataFolha e dos que controlam esse instituto e o jornal FSP é ZERO.

  3. A primeira droga desse governo que deve ser derrubado é o juiz ladrão …
    Depois o chefe do juiz ladrão !

  4. com o surgimento da #vazajato, a rede lodo foi obrigada a fazer a defesa de moro e por consequência, aliviar para o capetão.
    a rede lodo continua sendo um entrave ao país!

  5. O terço do meio, que votou na esquerda de nariz tapado antes do Bozo, depois de toda a doutrinação da mídia, que continua firme, só que meio assustada e tentando equilibrar a rejeição ao governo, com a rejeição às esquerdas, vai voltar a votar na esquerda, sem um choque profundo. Espere mais umas cinco gerações, se não estiver tudo acabado antes. Esse pessoal é rã cozida em fogo brando, não pula da panela.

  6. A Globo e o que ela representa são os verdadeiros inimigos. Destruídos, o pais muda!!!

  7. Correto !!!
    1/3 é razoavelmente politizado e progressista
    1/3 é elitista, americanizado, ganancioso, hipócrita, e/ou, trouxa
    1/3 oscila entre os terços anteriores e precisa ser politizado, via, batalha da comunicação.
    PS.:
    Os governos do PT ficaram 13 (TREZE) longos anos desprezando a comunicação e dando moleza para os inimigos, tipo Globo, Igrejas do Deus Mercado, Blogs americanizados, etc.
    O governo da Dilma, com o querido ministro traidor Zé “da JustiCIA” Cardozo, foi um tremendo fracasso nas comunicações …
    Assim, ficou difícil !!!
    Agora, é tentar salvar o que ainda for possível !!!
    TáOkey ???

  8. Que raio de pesquisa é essa? “Fazer o que espera que se faça” serve tanto para quem espera muito quanto nada.

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