O presidente que virou bagaço

Não se pode adivinhar as intenções de Jair Bolsonaro, exceto naquilo em que ele as deixa óbvias: a radicalização política.

Daí para a frente, corre-se o risco de confundir o que é sua desorientação pessoal – e esta não é pequena – e o que é seu projeto político e aniquilamento do Brasil.

Pode-se, porém, verificar o movimento perceptível da opinião pública, que vai se descolando da natural e legítima esperança em quem foi eleito para, quase que exclusivamente, o pólo que rejeita o governante.

Há cada vez menos gente neutra em relação ao ex-capitão e os que deixam de sê-lo passam a uma posição de rejeição ao seu comando político extremista.

Curiosamente, quem está no governo, com todos os poderes, assume uma posição de “resistir” aos que se lhes opõem, quando a ordem natural é que resistir seja papel da oposição.

Bolsonaro consegue a junção de duas palavras parecidas, mas não iguais. É inapto para governar, porque lhe falta aptidão, capacidade e habilidade para tal, e é inepto, porque carece de inteligência, de sentido e coerência para exercer o posto presidencial.

Conseguiu transformar um parlamento hegemonicamente direitista em um foco de oposição.

Suas “conquistas” são para lá de polêmicas, as de apoiar e promover duas questões que só excitam uma minoria: o armamento pesado aos civis e a retirada de direitos aos que vão (será que ainda vão?) se aposentar.

No resto – emprego, inflação, crescimento econômico – vai se afigurando pior que Michel Temer. Humilhou o país ante os Estados Unidos. Hostilizou abertamente toda a juventude ao confrontar a universidade. O mesmo fez aos partidos, especialmente os de direita que lhe davam apoio. Deixou-se ver como um homem governado pelos filhos e maltratou sua base militar.

Onde meteu-se, desgastou-se. E não se tornou o que não é – mas se se pretende hoje – : um inimigo do stablishment.

É muito cedo para achar que Jair Bolsonaro queira renunciar e também é cedo, por falta de informação, que algum escândalo familiar o vá levar a isso.

Mas não é cedo para dizer que sua autoridade presidencial se esvai e que, talvez, ele o sinta e vá a algum gesto extremo.

Não tem os compromissos morais com o país e o povo que o levem a se sacrificar ou a enfrentar intempéries e isso pode ser determinante num desfecho pífio do apogeu de seu trajetória improvável.

Dele só se pode dizer que se esvai, que o tempo o devora como a areia da ampulheta que o genial Aroeira intuiu na charge que ilustra o post.

Jair Bolsonaro é alguém que o país sabe que não é futuro e quer ver se tornar passado.

 

 

 

 

 

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27 respostas

  1. Desde a eleição eu afirmo para amigos que o prazo de validade desse governo tosco é 30 de junho de 2019. Se é que chega até lá. Só os bolsominions mais teimosos ainda apoiam esse ser desprezível, que acabou com o Brasil.

  2. “A gente está chegando numa fase em que não só os eleitores de Bolsonaro, como brasileiros como um todo, e o planeta inteiro, sabem que estão lidando com um maluco que tem que ir para o hospício, se não for para a cadeia”.
    Jesse de Sousa

  3. Não querendo ser cansativa. Mas quando o capitão se elegeu eu disse que nao era para ele subir a rampa do Planalto, e se subisse, ia voltar de ré humilhado e com todo o seu clã em desonra. Esse homem vai ser escorraçado da presidência da república. Ele enganou o país inteiro. Seu discurso hipócrita vai para o esgoto muito em breve. De minha parte eu não quero a renúncia. Quero a desmoralização completa com a retirada do cargo presidencial a fórceps. É o que ele merece. E é o maior castigo para criaturas arrogantes e vaidosas como ele. Outro vaidoso que terá suas vestes enlameadas é o ex-juizeco. Quem anda com porcos se chafurda na lama .

    1. Eu até hoje não entendi porque ele topou ser presidente.

      Seria muito mais cômodo continuar na sua mamatinha de deputado medíocre, junto com a família.

      Será que foi coagido?

      1. Ele é imbecil o suficiente para achar que poderia continuar , só que ao invés de mamatinha…..um mamatão.

        Cercou-se do entreguista e cooptado moro.

        E prometeu entregar o Brasil aos EEUU numa bandeja de prata.

        Mas vai perder ( literalmente ) a cabeça, ele e sua prole imunda.

      2. Acredito que já esteja tomando um “prejuízo” financeiro alto, somente com a descoberta do queirozgate, que deve estar parado com a abertura das investigações.

      3. Tendo a concordar com a Sandra, pois verificamos isso até no nosso ambiente de trabalho: pessoas que estavam num cargo mais baixo e de pouca exigência, mas são levadas pela vaidade (diretamente proporcional à incompetência) a tentar alçar voos mais altos… para se estabacarem no chão!

  4. Agora somos todos iguais? Pode até parecer, mas até ontem não. Bolsonaro nunca teve projeto, a não ser o de se dar bem, para si e sua família. Inútil até discorrer sobre o seu caráter exposto e suas ligações com o submundo do crime. Mas, a direita deste país, circunstancialmente, não tinha outra opção. Poderiam tê-lo apagado no Einstein, mas algo não funcionou a contento, num contexto em que o filho caçula avisava que “há gente querendo que ele morra. E alguém de perto”.

    Agora que “ninguém mais o aguenta”, dada a estupidez e a burrice geral do governo, tentam convencer que uma grande cruzada nacional, com brasileiros todos unidos, movimentam-se pela deposição do estrume que os militares, judiciário e empresários lá botaram.

    O movimento em defesa da educação (contra os cortes) foi a gota d’água para que a direita antecipasse esta “saída”. Um dia antes (14) a Globo ainda fazia ignorar o dia 15. No dia 15, hora do almoço, o Brasil “distante e simplório” ficou sabendo que haveria manifestações de estudantes, professores e funcionários do ensino através de suas telas. “Sem querer, querendo”, como dizia o Chavez (o outro) esta movimentação NOBRE E LEGÍTIMA ofereceu ao inimigo a oportunidade que lhe faltava. Sem censuras! Mas, é preciso entender que quando o poder ainda está majoritariamente na mão do inimigo, este tipo de risco é previsível.

    Quando Globo e satélites começam a “clamar” pela deposição de quem eles lá colocaram (e com as mais vis intenções) e o que, para aqueles militantes sinceros pela liberdade nem lá queriam que estivesse, é porque eles querem utilizar a energia de seu inimigo, que somos nós, para seu favor e, ao fim, ainda mais, derrubar-nos.

    Temos que demonstrar que SIM, queremos a queda de Bolsonaro! Mas não em troca de um Mourão que, assim como ele, foram eleitos sob um processo totalmente manietado. Queremos a LIBERDADE e não a OPRESSÃO, com a perda de direitos e do patrimônio e das riquezas nacionais para os surrupiadores internacionais ou locais.

    É isto. E disto havemos de ter clareza para ajudar a conduzir nosso povo para o caminho da sua e nossa libertação e para a felicidade!

    1. Subscrevo: ou caem os dois, Bolso e Mourão, ou entraremos em situação ainda pior e sem saída. ATENÇÃO!

  5. Não tenho nada contra o eleito, pois está fazendo o que sempre fez. Não enganou ninguém que não desejasse ardentemente ser enganado. Tenho contra os que o elegeram ativa ou passivamente, com o argumento tosco de que é tudo farinha do mesmo saco. Podemos falar de dinheiro sujo, de fake news, mas só funcionaram porque o povo resolveu cuspir no prato que comeu e dar vasão aos seus baixos instintos. O culpado não é uma pessoa, mas a maioria dos eleitores brasileiros.

  6. Jair Bolsonaro passará para a história, além de outras coisas medonhas, como a maior cagada do povo brasileiro.
    Mas ainda é o presidente e, assim como aconteceu com Temer, não podemos acreditar que vai cair por causa de escândalos. É preciso algo mais.
    Impeachment molezinha só o da Dilma, porque a própria além de não lutar, parece que ajudou do jeito que pôde.

  7. O projeto de aniquilamento do Brasil como nação é determinação do imperialismo, e para isso se valem de um bagaceira que fizeram presidente.

  8. Começo a me preocupar. Não com o mulo-sem-cabeça, ou seu governo insepulto mas já cadáver, mas com o País. Porque quando vemos a conjunção de fatores que estamos vendo (manifestações populares maiores que o esperado, reação violenta e inadequada provocando mais repulsa e, provavelmente, maiores manifestações ainda, divulgação de um texto de lavra evidentemente pró-autoritária, aperto do cerco legal contra os elos fracos da cadeia de comando do poder com risco real de atingir o círculo mais próximo de familiares), começa a desenhar-se o cenário propício para um auto-golpe. Não por opção racional do mulo, não creio que chegue a tanto, mas como saída dos desesperados que não vêem outra maneira de se manter no poder pelo tempo necessário para completar o trabalho de desmanche, encomendado de fora. E por fregueses a quem não se deve desagradar. Alguém já escreveu aqui o termo “fujimorizacão”; o pior é que é mesmo algo plausível, pois no parco miolo dos ocupantes do poder este é o “melhor” caminho possível, pois é o único que eles entendem e os deleita. Para os não-mentecaptos mas oportunistas monetários, também se afigura um caminho atraente, pois já viram o que os chilenos mostraram há décadas, que sem mão de ferro não se implanta uma proposta de liberalismo selvagem. Enfim, confesso que ficarei feliz se tudo isto for só uma versão repaginada do “não me deixem só”, que bem sabemos como terminou. O receio é por algo muito mais sombrio que se desenha no horizonte. Espero enganar-me.

  9. Entendo ser uma questão importantíssima e “oportuna passando da hora” o fato de que as elites econômicas e a velha imprensa, como a globo sempre manobrando como nau capitânia, estão capitalizando (êta palavrinha mais adequada) as manifestações que aconteceram e acontecerão para trocar, simplesmente trocar o comando deste governo por um que seja mais eficiente em fazer as reformas em pauta, entre outras, a trabalhista, da previdência e destruir a saúde e a educação pública. E ainda por cima vão posar de salvadores da pátria e associados à população indignada. Nos últimos 3 ou 4 anos fizeram isso 2 vezes e ganharam muita experiência. Cansei de ouvir dos golpistas bolsonáricos que se este aí não der certo, “a gente troca e bota outro”. Não se pode permitir a entrega das pautas reivindicatórias manifestas nas ruas para o “gerenciamento” das elites e da imprensa. Todo mundo sabe onde isso vai dar.

  10. Temos que ter em mente que os militares apoiaram e aceitaram cargos nesse governo, por um simples motivo: voltar ao poder. De nada valem críticas por eles estarem sendo humilhados pela direita raivosa e bolsonarista. O Bozo é conhecidíssimo pelas forças militares que o expulsaram e depois o anistiaram, colocando-o na Reserva aos 33 anos de idade. Acontece que os militares viram nele a oportunidade de voltar ao poder pela via democrática (com bombardeios fake news, com a derrubada da Dilma e a prisão do Lula – “bem democrática”, por sinal). Depois de limparem o caminho, aliaram-se àquele que, com suas loucuras e lambanças, ganhou a simpatia do povo como “o salvador da pátria” que iria exterminar com o PT e com os comunistas. A primeira parte do plano foi concluída: elegeram o traste. A segunda parte, por óbvio, é deixá-lo derreter por si próprio (o que será fácil, por ser um sujeito tosco e pouco inteligente). O “gran finale” será ou a renúncia, ou o impeachment, via Congresso. O resto da tragédia (para nós) é fácil de entender e muito previsível. E não gastaram uma bala ou uma granada sequer. Resumindo: nada de novo no front. Continuaremos ferrados.

  11. Todos como o mínimo de massa encefálica e capacidade de pensamento próprio sabiam – Bozo é um inapto, sempre foi, sem compromisso com o país, sem projeto, um completo idiota. Agora, o que me mais preocupa é o pós, vai assumir Mourão – um militar – e o projeto de destruição da elite mercantilista vai continuar, agora com um sujeito minimamente aceitável para essa gente? Sérgio Moro continuará a ser o rei do judiciário, Dallagnolls e juizecas cópia-e-cola continuarão a degradar a magistratura e o direito pátrio? Ainda haverá espaço para Barroso, Fux e Facchin da vida? Lula continuará seu calvário, preso e inviabilizado e a culpa ainda será do PT? O Brasil precisa de reviravolta na maneira de pensar e senso crítico para identificar os verdadeiros inimigos da nação. Sem isso, qualquer um que vier após o Lixossauro continuará seu projeto de degradação nacional.

  12. Sandra rota, a partir de agora só vou repetir seus comentários. É isso aí, só que voce escreveu primeito. Parabens.

  13. Ele é militar e, por isso, radical. Para ele, renúncia é ato de covardia e suicídio, de fraqueza. Então sobram duas saídas para o Bozo: 1ª) arranja uma viagem para algum país e, estando lá, passa mau, se interna e pede uma licença. Seria, mais ou menos, o que fez durante a campanha. Lá ele estaria fora do alcance das críticas, deboches, acusações e etc.; 2ª) convoca os apoiadores malucos que tem e fecha o Congresso e o STF para, em seguida, se proclamar presidente eterno. A primeira saída teria o apoio dos militares e, a segunda, os militares não teriam força suficiente para conter sem que haja banho de sangue. O Bozo está apostando na 2ª saída, lógico.

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