O “mini-crash” e nós

nyse

Afora o óbvio de que os mercados de câmbio e a Bolsa, amanhã, abrirão em forte baixa, é claro que ninguém pode prever com exatidão o que vai se desenhar depois do terremoto desta segunda-feira na Bolsa de Nova York.

É muito pouco dizer, como fazem alguns comentaristas, que foram as estatísticas de emprego, melhores do que as previsões, as responsáveis pela queda abrupta dos preços das ações, pelo medo de que isso gere inflação interna nos EUA. Embora em alta, a subida tem sido suave e a taxa anda por volta do que, para os padrões locais, está dentro do normal, algo em torno de 2% ao ano.

Também é precipitado dizer que o desabamento das ações deveu-se à saída de Janet Yelen , hoje cedo, da presidência do Federal Reserve, o poderoso Banco Central dos EUA. Afinal, seu sucessor, Jerome Powell, até agora não tugiu nem mugiu sobre a mais que esperada alta dos juros.

Há outros fatores, a começar pela aparente bolha de otimismo que a reforma fiscal de Donald Trump – que  cortou os impostos sobre lucros – criou na valorização das ações de empresas norte-americanas. Desde que ele a anunciou, no final de abril de 2017, o índice Dow Jones subiu – até quinta-feira passada – mais de 25%. 25%, em dólar, é uma enormidade.

Uma alta deste tamanho, como sangue na água, coloca os tubarões do mercado em frenesi alimentar.

O baque da bolsa nova-iorquina, hoje, não se deveu a algum incidente: um ataque terrorista, o início de um conflito, uma decisão da Opep elevando preços de petróleo, a eleição de um governo hostil aos EUA, nada deste tipo.

Ele navega em águas mais profundas, que não é possível divisar perfeitamente até aqui, exceto para dizer que o fluxo de capitais passa a ser mais de cá pra lá do que, como antes, de lá pra cá.

A primeira consequência é – ou deveria ser – uma decisão prudente do BC brasileiro de interromper a sequência da taxa de juros, o que não parece provável, dado o engajamento da equipe econômica deste governo no “agora a coisa vai” da tal retomada econômica.

Seja para investir em ativos acionários subitamente desvalorizados nos EUA, seja para os títulos com juros turbinados (ao menos um pouco) lastreados em dólar, a tendência é que aqui passemos a ter de dar mais, muito mais, para atrair o capital estrangeiro.

O BC terá que fazer de tudo para manter o real estável, sem o que as privatizações anunciadas tornam-se caras: estamos vendendo em real e os compradores são em dólar.

Como disse ao início, não dá para fazer previsões antes de saber que o mercado norte-americano vai se acalmar ou se o que aconteceu sexta e hoje são as linhas de uma espiral.

O fato é que uma perda de tamanho valor num mercado gigantesco como o norte-americano  significa fazer “desparecer” dinheiro, numa ideia estranha a nós, mortais, que achamos que ele sai de uma mão e vai para outra, mas continua a existir fisicamente.  No mercado de papéis, ao se vender na baixa, ele desaparece de imediato da conta de quem vende e só surgirá na mão de quem compra se e quando se revalorizar.

Capital financeiro é como “bitcoin”: só existe quando você acredita nele e negocia com ele.

 

contrib1

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5 respostas

  1. Sou leigo, mas leio isso no Business Insider a quase 1 ano de que o crash global vem ai .. (que seria muito pior daquele de 2008, segundo especialistas!) e a reboque, o “CALOTE das DÍVIDAS”, não só no Brasil pois o mundo DEVE algo como 300% acima do PIB Global … e uma hora ESTOURA !

    Para nós, será pior agora do que em 2008 pois estamos no meio deste TIROTEIO do GOLPE .. salve-se quem puder !

  2. Existem erros de origem no capitalismo que são irremovíveis e mais cedo ou mais tarde aparecem porque não são reais nem naturais, mas uma ficção, sempre trazendo prejuízos à maioria das pessoas, porque os banqueiros e os CEOs sempre dão um jeito de se locupletarem: 1- o dinheiro foi transformado em mercadoria e perdeu sua função como representação da mercadoria. Os resultados maléficos disto são muitos, mas o principal é a especulação. Especulação sempre existiu, mas com produtos de fato, reais, e não como um simulacro de produto. Com isso se cria papeis ou dinheiro sem lastro e se joga com eles. Às vezes é preciso recompor esta farsa devido ao excesso insuportável de moedas falsas no mercado, daí o sacolejo nas bolsas. 2- A busca de lucros cada vez maiores às custas do aumento da produção e do aumento dos consumidores. Ora, a energia e os materiais do mundo são limitados, sem contar que se tem um conceito errado de consumo como se o consumido desaparecesse. Na natureza tudo se transforma e quanto mais se consome, alem do esgotamento das reservas, mais lixo se cria, mais poluição que acelera o processo de esgotamento do planeta.

    1. Uma das respostas possíveis ao paradoxo de Fermi é o chamado Grande Filtro, uma impossibilidade de civilizações seguirem adiante, uma propriedade das civilizações que aa impedem de existirem por muito tempo.
      Parece que no colapso todo sistema econômico há uma reação violenta e desesperada da classe social dirigente na inútil tentativa de salvar o sistema que as privilegia, se o capitalismo estiver no seu fim a reação se dará com a classe dirigente possuindo armas capazes destruir a civilização e tudo o que há. Assim, a queda do capitalismo levará consigo o planeta confirmando a hipótese de que as civilizações se destroem antes de colonizarem outros planetas.
      Uma pena, pois o progresso tecnológico seria capaz de propiciar a humanidade a utopia.
      Seria da natureza das civilizações se destruírem justamente no momento em que todos poderiam ser felizes.
      Talvez ser feliz com os outros não seja da nossa natureza, afinal fomos forjados na competição (seleção natural) e a racionalidade, assim como o livre arbítrio, sejam só uma ilusão desses seres ainda instintivos.

  3. Trump está fazendo valer novamente, com muita força, a economia produtiva, e isso implica necessariamente no gradativo colapso das miragens da economia financeira. Eis o que já transparece de forma objetiva na queda da bolsa. Estes sintomas vão persistir por bastante tempo.

    1. Concordo! Trump está definitivamente engajado com o projeto de “Reforma” que, na ponta, significa o aumento da margem empresarial. Ou seja, valorização financeira destas empresas e das contas bancárias de seus sócios.

      A economia produtiva não pode ser migrada das plantas asiáticas de volta aos EUA, por simples decreto e ele sabe muito bem disto.

      Dessa forma, joga um alento para o poder econômico ao cortar esta taxação sobre lucros (que é um fator concentrador de renda, no futuro, mas, aí já é tema para outro debate aqui), na tentativa de atrair o investimento direto externo que antes fluía de investidores domésticos para os mercados emergentes.
      No caso, é a tentativa de manter o capital do investidor doméstico circulando no próprio mercado.

      Não creio que isso retome a era de ouro do capitalismo industrial americano, do pós 2ª guerra, mas definitivamente vai colocar o selo “made in USA” em determinados bens. Dos quais eles já detêm a patente.

      E quem vai ficar “chupando os dedos” será a pobre nação mexicana (tão longe de Deus, tão perto dos EUA), que se entregou de corpo e alma para o NAFTA e suas inúmeras fábricas maquiladoras que, por força da nova política econômica americana, estão com seus dias contados.

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