O capitão e o tamanho do mar

A crise no Oriente Médio não vai ser um surto.

Deve haver, sim, um pico imediato, mas será o prenúncio de uma temporada de mar encapelado.

Quem quiser imaginar os iranianos como um bando e fanáticos, que vão lançar um míssil sobre algum alvo e darem-se por satisfeitos, está redondamente enganado.

É claro que haverá ações armadas, mas isso será o menos importante.

Sem excluir que bombas possam ( e vão) explodir aqui e ali, até porque o nível e tensão é alto e mantê-lo assim ajuda a retaliação aos norte-americanos, porque é impraticável a Donald Trump ir além da “guerra de joysticks”e colocar tropas em grande escala em terreno hostil como o Iraque ou o próprio Irã. O 3,5 mil soldados enviados desde Fort Bragg não são absolutamente nada, apenas pessoal basicamente destacado para proteger plantas de petróleo.

Os iranianos estão considerando o fato de terem obtido apoio em escala global. Os chanceleres da Rússia, Serguei Lavrov, e a China, Wang Yi, emitiram hoje nota conjunta condenando “o uso da força em violação à Carta da ONU” e falando em tomar “medidas conjuntas” para evitar uma escalada bélica. A Europa também se recusou a subscrever as ações de Trump e o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo revelou publicamente seu desapontamento com a reação europeia.

Portanto, a arma mais importante de retaliação será manter o sobressalto e a intranquilidade no mundo do capital, de forma persistente, pela via da crise política.

E quanto a nós?

Nós? Nós entramos de gaiatos nessa crise, com um capitãozinho que não só não tem capacidade de manobrar com inteligência como tem como obrigação de, diante de sua tropa de lunáticos, brandir sua espadinha de madeira, proclamando-se valente.

Demonstrou isso já na sua primeira fala sobre a crise, excluindo completamente a hipótese de uma administração dos preços – a que chamou tabelamento – mesmo temporária.

Ora, permitir a transmissão imediata para os preços internos de um eventual pico no preço internacional causado por um ataque a instalações petrolíferas é abrir a porta para um surto de reajustes que, para debelar depois é quase impossível.

Em seguida, chancelou uma nota do Itamaraty onde desconsiderou todos os avisos e alinhou-se ao Governo Trump, novamente sem nada em troca.

O que vai fazer na semana que vem ou na próxima se cenário não se desanuviar, afastando a nuvem negra que chegou rápido e tampou o sol do “agora vai” que nem tinha ido ainda?

Governantes se revelam nas crises, como comandantes nas tempestades.

E experiência não se vende no “Posto Ipiranga”.

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12 respostas

  1. Brito, poderíamos esperar reação diferente desse energúmeno? Ele vai lamber as botas do Trump até seu último minuto no governo que, espero, não dure muito. Já deveriam ter tirado esse maluco do Planalto desde meados do meio do ano. Ele é uma desgraça ambulante.

  2. O problema do mundo é que os EUA vencem qualquer guerra convencional, mas perdem uma guerra atômica com a Rússia. E sabem disso, por isso cercam, cercam, mas não resolvem isso de uma vez.

    1. Tenho a impressão de que nem guerra convencional eles garantem mais. Vai depender do inimigo. Se for estilo vietcong, eles se arrebentam.

      1. Perfeito. Guerra da Coreia nos anos 50? Resultado: há 2 Coreias, e a do Norte passa bem, obrigado. Guerra do Vietnã nos anos 60? Resultado: o Vietnã é um país comunista. Manutenção da plutocracia de Reza Pahlevi no Irã, em 79? Resultado: a teocracia islâmica dos aiatolás xiitas manda até hoje. Mais recentemente, guerra na Síria? Resultado: a entrada da Rússia no combate decidiu-a a favor de Bashar Al Assad, contra a presença militar norte-americana e de seus aliados. Uma coisa é rosnar para países sem qualificação militar e autoestima política, como no Iraque ou na América Latina. Outra é rosnar para cachorros grandes, ou mesmo pequenos mas bravios e com autorrespeito. Na guerra assimétrica, de pouco ou nada valem os joysticks, como até a Somália pode demonstrar, na batalha de Mogadíscio, em outubro de 93.

  3. Acho a branca é branca, aliás loura, oxigenada, ariana, nuclear, sei lá, mas é o que vejo daqui.

  4. O Beócionaro é um Brancaleone piorado, na verdade é uma Brancadeneve caipira, junto com seus 7 ministros anões, a dizerem 7 asneiras por minuto…..ou mais.

  5. Prezado Sr. Brito, tenho de discordar em dois pontos essenciais do texto. Um: o mulo não é um político na essência da palavra, mas um politiqueiro dos mais rastaqueras. Não tem conhecimento suficiente para ir além do mais básico toma lá, dá cá. Ocupa a presidência por uma série de ocorrências para as quais pouco ou nada teve a ver, os verdadeiros interessados apenas se viram sem outra escolha. Logo, é bobagem esperar dele atitude de estadista, coisa que ele não é capaz nem de mimetizar. Dois: de nada adianta julgar suas atitudes face aos EUA como governante ou mesmo como oficial. Militares de baixa patente não recebem instrução, apenas doutrinação. E esta reza que os EUA, como único país capaz de atuar simultaneamente em mais de uma frente de batalha, são os “senhores do mundo” por direito inconteste, e que é melhor estar sempre e incondicionalmente ao lado deles, obedecê- los para gozar de sua “proteção”. Desde aspirantes a oficiais, isto é o que se vende como “formação” e está incutido em suas psiques profundas. Logo, esperar outra atitude de alguém que só aprendeu isto na vida é também perda de tempo. Ele jamais saberia agir de outra forma, mesmo que o quisesse. Não tem cognição, anulada desde o primeiro segundo nas doutrinas castrenses. Sabe apenas repetir o que lhe foi repetido ad nausean. Nem mesmo seu lema de campanha conseguiu ser original, pois o “Brasil acima de tudo” é lema do Exército e repetido todos os dias diversas vezes, até que se torne um ato reflexo repeti-lo à simples menção do nome do país. Saudações!

  6. Agora seria uma piada internacional pedir ao Iran desligar suas centrífugas. Até os ingleses teriam vergonha de apoiar, qualquer país soberano tem que ter suas bombinhas e não um presidente batendo continência para os outros como um cachorrinho abanando o rabo pro dono. Esse é o padrão dos nossos machões.

  7. Não sei se é verdade, mas li que os xiitas antes de qualquer ação passam uma semana meditando sobre o que fazer. Portanto, parece que só nos resta esperar.

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