Nelson Barbosa, o ministro, por Paulo Nogueira Batista Jr.

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Não é segredo para os que acompanham este blog, minha admiração por Paulo Nogueira Batista Jr.

Não apenas por suas posições econômicas e políticas, mas por algo que falta aos economistas em geral: a capacidade de falar de forma a evidenciar o pensamento, não de escondê-lo.

Uma de suas expressões corriqueiras descreve melhor quem manda na política financeira do Brasil melhor do que qualquer tratado.

Porque é em português claro, compreensível nos Jardins ou em Imbariê, Duque de Caxias.

Turma da Bufunfa.

Deve dar calafrios a muita gente se ver exposto, pelado assim, numa análise econômica.

Já nutri o sonho de vê-lo Ministro da Fazenda. Já pensaram um ministro da Fazenda que seja capaz de falar do jeito que o povo entenda?

Sei que foi demais, porque ministro da Fazenda assim é pior do que qualquer coisa, porque economia não é para ser clara, não é para ser entendida, como não são para consumo público as informações sobre como são feitas as leis e as salsichas.

Mas cultivo o hábito de usá-lo como bússola e, por isso, reproduzo seus comentários sobre Nelson Barbosa, o novo ministro da Fazenda, que assume pisando em um tapete de ovos, com a obrigação de falar o mesmo que o seu antecessor – sucesso de crítica e fracasso de público –  e fazer tudo diferente.

“Hoje quero escrever um pouco sobre o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Vou dizendo logo de cara: não é amigo, nem posso dizer que sou próximo a ele. Mas, ao longo dos últimos anos, na condição de diretor-executivo pelo Brasil no FMI e agora de vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, tive contatos profissionais frequentes com ele e não tenho dúvida em afirmar: é um economista e homem público excepcionalmente bem preparado. Possui sólida formação técnica, tem visão política e conta, apesar de jovem, com grande experiência de governo.

Perguntaram certa vez a Nelson Rodrigues se ele tinha algum conselho para os jovens. A resposta, fulminante: “Envelheçam, rapida e urgentemente!” Perfeito. Regra geral, a imaturidade do jovem o inutiliza para funções decisivas. Pois bem, Nelson Barbosa é uma exceção fulgurante à máxima do seu xará dramaturgo.

Quando nos conhecemos, há uns dez anos, ele me passou de imediato impressão muito favorável. Não por afinidades ideológicas — “A ideologia é uma plataforma precária”, dizia Maria da Conceição Tavares —, mas porque suas observações revelavam inteligência e originalidade. Quando eu estava em Washington, e o FMI organizava missões ao Brasil, sempre recomendava que incluíssem Nelson Barbosa na agenda de visitas em Brasília, mesmo antes de ele se tornar secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Invariavelmente, os representantes do FMI saíam impressionados das reuniões com ele e sua equipe.

Aliás, devo acrescentar que com Nelson Barbosa trabalha uma nova geração de economistas e administradores públicos muito competentes: Dyogo de Oliveira, Manuel de Castro Pires, Esther Dweck, entre outros. E o novo ministro reteve da gestão anterior secretários de grande experiência e competência: Luís Balduino Carneiro, na Secretaria Internacional; e Jorge Antonio Rachid, na Receita Federal.

Digito estas linhas e paro, com uma ponta de tristeza. Certas coisas marcam a passagem do tempo. Uma nova geração está, neste momento, assumindo a enorme responsabilidade de resolver questões que a minha geração de economistas não conseguiu equacionar. Ficamos, nós, às voltas com a crise da dívida externa da década de 1980, a hiperinflação que se seguiu, desequilíbrios fiscais crônicos, persistente sobrevalorização cambial, crises políticas recorrentes — todo um conjunto de problemas que impediram o Brasil de deslanchar e se desenvolver de forma sustentada.

Mas, enfim, chegou sangue novo, uma vontade nova. E é disso que precisamos. O desafio que Nelson Barbosa enfrentará é imenso, como todos sabemos. A recuperação da atividade produtiva vai demorar. O desemprego continuará aumentando no curto prazo. O quadro político interno não facilita a estabilização da economia. A situação internacional se mostra cada vez mais conturbada [e o país onde moro atualmente (a China) é um dos maiores focos de preocupação].

Uma coisa é certa, entretanto: Nelson Barbosa conhece como poucos, e de dentro do governo, a dimensão do desafio que o espera. Tenho certeza de que ele estará à altura da grande honra e da grande responsabilidade que é ser ministro da Fazenda do Brasil.”.

Pensando bem, acho que existe algo neste pensamento de Paulo que se aplica a mim, na crítica política. Acho que é um exercício de humildade o de saber que somos, pela trajetória, capazes de saber onde o chão é firme, sólido, capaz de apoiar um salto. Talvez, como ele diz, já nos faltem forças para usar isso para um salto.

Mais ainda quando a alguém, como Barbosa, se coloque o desafio de saltar mantendo os pés no chão.

 

 

 

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19 respostas

  1. Se o Paulo Nogueira B. Jr. tem esta opinião sobre o ministro, para mim já é um grande alento… Sempre admirei seus textos.

  2. E, imediatamente após o bom serviço prestado à plutocracia, o senhor Joaquim Levy já vai, segunda-feira, assumir uma big chefia no Banco Mundial. E com bastante inside information na bagagem. Esse vai longe. Quando entrou ficou gozando do Mantega: ‘É brincadeira o que fez’. Com a sua saída da Fazenda agora, sabemos nós a ‘brincadeira’ que ele fez do Brasil. Vagaba.

  3. Eu confio muito no Barbosa. Mas sinceramente a Dilma nos primeiros dias do ano vir falar em previdência ? Aumento de idade mínima ? Tem muita coisa mais urgente neste momento. Reforma de Previdência e Reforma trabalhista não pode ser pauta do governo neste momento. Tem primeiro que sair desta areia movediça que se encontra. Ou ela é muito mal assessorada ou não percebe que o momento não é de medidas impopulares. Muito pelo contrário, tem que adotar medidas de incentivo e crescimento da economia…. Deixa reforma da previdência e reforma trabalhista pra Direitona fazer, se voltar ao poder algum dia. Falo isto para enfatizar que mesmo o Nelson Barbosa sendo muito bom, se ele tentar resolver os problemas do país começando por medidas impopulares, pode se perder e ficar pelo caminho abraçado com a presidente Dilma.

    1. Parece que a Dilma faz força para cair, e se cair terá o discurso de que a deixaram só.

      Não lembra que não caiu ainda por causa da base social, enganada nas eleições, que entendeu que a alternativa é o caos e o inferno.

      A oposição aposta no caos e no inferno, o problema é que Dilma também está acreditando que o apoio será eterno e incondicional, diante da alternativa.

      Acena para a direita, achando que já tem a esquerda no bolso, é de uma mediocridade estratégica de chorar de pena (do povo brasileiro).

      Como disse Boulos, do MTST: esse governo precisa tomar atitudes defensáveis, para poder ser defendido.

      Não há Nelson Barbosa que dê jeito em um governo que se recusa a fazer política.

      1. Endosso os comentários do Eduardo Almeida e do olivires. Brilhantes. Também acho brilhante o Paulo Nogueira e gostaria de vê-lo no Ministério do Planejamento ou da Fazenda.

      2. Andei a pensar em uma palavra capaz de elucidar o governo ( ? ) Dilma e a oposição ao longo de 2015 e só me veio a palavra esquizofrenia.
        Mas como tudo pode piorar vem o Wagner criticar o PT e a própria Dilma defender reforma de previdência, acho que teria mesmo sido mais interessante historicamente o Aécio ter ganho em 2014, estaríamos numa CRISE real e muitos enxergariam somente na esquerda uma saída, apesar da lavagem PIGAL.

  4. Da mesma forma que os acordos de leniência, ajudarão a recuperar a capacidade de empregar, as fortes chuvas no centro-sul, que ajudarão na redução da inflação. O problema realmente será a crise internacional, principalmente a China.
    Quanto à estabilidade política, realmente não acredito. Para que isso ocorra, a justiça deveria deixar de ser seletiva. Precisaríamos de políticos como o Cunha e o Aécio presos por todas as falcatruas que vem aprontando ao longo dos últimos anos. Não basta prender petistas corruptos.
    Infelizmente para o novo ministro novo, são muitas variáveis que fogem da econometria básica.

  5. A luta feroz que acontece no Brasil tem outras faces bem diferentes do que aparece na mídia e na Internet. Quem vai prevalecer? Clara Nunes ou Eduardo Cunha?

    1. O que digo é nos conformes do que Batista se inspira por Nelson Rodrigues. Há de tudo o que é resposta forte, dentro do Brasil.

  6. Na época, senti orgulho com sua indicação ao FMI. A direita soltou o verbo: ué, ele não critica sempre o FMI? Não entenderam mais esta indicação perfeita do Lula, e com a indicação, mais uma prova de independência de seu governo.
    Com um sorriso no canto da boca, só não gostei de uma parte do artigo. O trecho onde ele diz que ” Invariavelmente, os representantes do FMI saíam impressionados das reuniões com ele (Nelson Barbosa) e sua equipe.”
    Esta boa impressão do pessoal do FMI, é minha única preocupação.

  7. Também sou grande admirador de Paulo Nogueira Batista Jr. de longa data. Sempre procuro saber o que ela acha do que está acontecendo no Brasil e no mundo, através de seus admiráveis e claros textos, como bem enfatizou Fernando Brito. Sua independência e sua experiência internacional fazem-no um dos melhores quadros públicos que temos no setor econômico e pouco lembrado pelos últimos presidentes, assim como o de Maria Lúcia Fattorelli.

  8. … Modestamente, antes do anúncio do Nelson Barbosa, eu não titubiei:
    o nome para o ministério da Fazenda deveria ser o do ínclito e catedrático economista desenvolvimentista e nacionalista Paulo Nogueira Batista Júnior…

    Master of Science in Economic History – UNIVERSITY OF LONDON – 1978
    Departamento: PAE
    Paulo Nogueira Batista Jr. é diretor?executivo do FMI-Fundo Monetário Internacional. Economista. Professor e pesquisador da FGV-EAESP desde 1989. Foi secretário especial de assuntos econômicos do Ministério do Planejamento em 1985-86, durante a gestão de João Sayad, e assessor para assuntos de dívida externa do ministro da Fazenda, Dilson Funaro, em 1986-87.
    Chefiou o Centro de Estudos Monetários e de Economia Internacional da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro de 1986 a 1989. Foi pesquisador visitante no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo entre 1996 e 1998 e, novamente, entre 2002 e 2004. É autor dos livros A economia como ela é… (Boitempo, 2000), Mito e realidade na dívida externa brasileira e Da crise internacional à moratória brasileira, editados pela Paz e Terra em 1983 e 1988, respectivamente.

    FONTE: http://www.fgv.br/eaesp/curriculo/dol_mini_curriculum.asp?num_func=239&cd_idioma=2

    1. Paulo Nogueira Batista Jr. é ex diretor executivo do FMI-Fundo Monetário Internacional.
      Atualmente, exerce o cargo de vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics

  9. A Presidenta Dilma Rousseff, às vezes, e, incrível, sempre ocorre quando está saindo ou tentando desesperadamente sair de uma crise, pendurar às costas, aquele outdoor-mirim que aparece nas costas de atores em filmes de comédia: CHUTE-ME! BATA-ME! CUSPA-ME! É brincaderira, véi!

  10. :

    : * * * * 04:13 * * * * .:. Ouvindo A(s) Voz(es) do Bra**S**il e postando: Abaixo a direita ! ! Viva o progressismo ! ! ! !

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    Por uma verdadeira e justa Ley de Medios Já ! ! ! ! Lula 2018 neles ! ! ! !

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  11. Sinceramente, não vejo como se consertar a economia do país em um ano ou dois. Meu medo é que em 2018 se estourem os gastos públicos novamente, com distribuição de benesses e créditos para se ganhar a eleição e o país afunde mais e mais.

  12. O xará pode até ser muito bom, como afirma o Nogueira Batista, mas, ao que tudo indica, entrou no governo com o mesmo pensamento do seu antecessor. Se continuar nessa linha neoliberal, ditada pelo FMI, os trabalhadores e o povo vão perder sempre para que os rentistas e os já ricos lucrem cada vez mais.

    E o governo Dilma parece inclinado a se afundar no neoliberalismo. Quer fazer reforma da previdência para ferrar os trabalhadores e continua privatizando. Parece que sua maior vontade é ficar igualzinho ao governo de FHC.

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