Mello: Serra diz que PSDB sofre de bovarismo. Mas, afinal, o que é bovarismo e quem sofre dele?

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Inconveniente, mandei de madrugada um email ao amigo Antonio Mello, publicitário, gente boa – embora isso esteja virando raridade – blogueiro, escritor e amante da obra de Gustave Flaubert, avisando a ele da declaração de José Serra, ontem, de que os tucanos sofriam de “bovarismo”, pois, como Emma Bovary, a personagem de seu mais conhecido romance, “porque tem necessidade de ser aceito pelo PT” e, por isso “vai à loucura, quebra a família e trai o marido com Deus e todo mundo”.

Quando gente cuida deste tipo de surto, é bom consultar um especialista. No caso, em Madame Bovary, porque Mello acaba de lançar um romance que toma à personagem e ao autor como mote criativo. Então, segue o texto com que ele, com gosto, analisou o episódio e o que vai pela cabeça de José Serra.

Serra e o bovarismo

Antonio Mello

José Serra não conseguiu se eleger prefeito de São Paulo, onde conta com uma rejeição de 50%. Praticamente escorraçado do partido a que é filiado, chegou a levantar a hipótese de se transferir para o PPS, tal sua rejeição entre correligionários e eleitores.

No entanto, a mídia corporativa continua a segui-lo, como fieis à procura da salvação, porque, endividada e sem perspectivas de recuperação, sabe que só Serra e PSDB a mantêm sobrevivendo, graças a aquisições de exemplares de jornais, revistas e material didático.

Só isso explica a presença do “cadáver adiado” (apud Fernando Pessoa), dia sim, outro também, no noticiário.

A nova matéria foi feita num, vejam só, encontro marcado pela juventude tucana (uma contradição em termos), em que José Serra deitou falação sobre o PSDB, com o objetivo (apoiado pela mídia) de detonar a candidatura do presidente do Partido Aécio Neves.

Dito engenheiro e economista, sem diploma e reconhecimento por nenhuma das duas categorias, sem cargo público ou trabalho declarado, e ainda sem dar explicação alguma sobre as inúmeras e graves acusações que lhe são feitas no livro Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro, Serra aproveitou o excesso de tempo livre para dizer que o PSDB sofre de bovarismo:

“Que me desculpem as mulheres, pois a coisa é mais complexa do que isso. Mas o problema da Madame Bovary é querer ser aceita pelo outro lado. Ela vai à loucura, quebra a família e trai o marido com Deus e todo mundo para ser aceita. O PSDB tem um pouco do bovarismo, de precisar ser aceito pelo PT”.[Fonte]

Pulando a hilária afirmação de que “o problema da Madame Bovary é querer ser aceita pelo outro lado”,vamos ver se o PSDB tem mesmo um pouco de bovarismo.

Bovarismo é um conceito criado por Jules de Gaultier (em Le bovarysme, la psychologie dans l’oeuvre de Flaubert), a partir do personagem Emma Bovary, do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert. “Emma personificou essa doença original da alma humana, para a qual seu nome pode servir de rótulo, se entendermos por ‘bovarismo’ a faculdade que faz o ser humano conceber a si mesmo de outro modo que não aquele que é na verdade”. Ou seja, o bovarismo consiste em “se imaginar diferente do que se é”.

Este conceito acabou adotado pela psicologia, com um sentido mais amplo, como uma pessoa que vive uma fantasia de si, diferente daquilo que é, e vive de acordo com essa fantasia e em desacordo com a realidade.

Vamos transportar essa noção para o campo político, para exemplificar: Imaginemos uma pessoa que se julgue a mais preparada para ser presidente da República e que se comporte e dê declarações como se realmente tivesse aquele preparo, aquela importância que só ele mesmo se atribui.

Imagine que essa pessoa, por se ter em tal conta, aja de modo a retirar de seu caminho adversários reais ou imaginários, na busca por alcançar a presidência a que se julga predestinado. Mesmo contra a toda a realidade, mesmo com a imensa rejeição do eleitorado e até do próprio partido. Isso é um caso tipo de bovarismo.

Será que José Serra conhece alguém assim?

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Madame Flaubert, de Antonio Mello

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4 respostas

  1. O senador Aécio Neves (MG) rebateu neste sábado (9) as críticas do ex-governador José Serra ao PSDB, desencadeando uma crise no partido.

    Nesta manhã, na capital amazonense, o mineiro abandonou o discurso conciliador que marcava a superfície da relação entre ambos.

    “Cada um contribui com o partido do jeito que pode. Eu estou aqui em Manaus falando bem do PSDB e mal do PT, né? Agora, não me acho a melhor pessoa para falar de complexos.”

    Na sexta-feira (8), o ex-governador paulista, que ainda se movimenta para se afirmar como candidato potencial da legenda ao Planalto em 2014, afirmou que o PSDB sofre da necessidade de ser aceito pelo PT.

  2. “O PSDB tem um pouco do bovarismo” – José Serra.
    Até que enfim ele falou alguma coisa certa. O PSDB traiu a social democracia.

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