Lula quer julgamento de suspeição e diz que “há provas suficientes”

O ex-presidente Lula enviou hoje carta ao chanceler de seu governo, Celso Amorim, na qual se manifesta pelo julgamento, amanhã – como estava previsto – do pedido de suspeição apresentado por sua defesa contra o juiz Sérgio Moro.

Lula argumenta que o pedido foi feito seis meses antes do surgimento das revelações do The Intercept,  protesta contra a “mentira de que a anulação” o seu processo implicaria a anulação da Lava Jato, “pois na Justiça cada caso é um caso”. Ele diz que não procede a alegação de que seria primeiro investigar as mensagens reveladas pelo site, argumentando que seu pedido, feito muito antes da publicação já continha provas suficientes de que o juiz é suspeito e não foi imparcial.

Leia, abaixo, a carta, na íntegra:

 

Querido amigo,

A cada dia fico mais preocupado com o que está acontecendo em nosso Brasil. As notícias que recebo são de desemprego, crise nas escolas e hospitais, a redução e até mesmo no fim dos programas que ajudam o povo, a volta da fome. Sei que estão entregando as riquezas do país aos estrangeiros, destruindo ou privatizando o que nossa gente construiu com tanto sacrifício. Traindo a soberania nacional.

É difícil manter a esperança numa situação como essa, mas o brasileiro não desiste nunca, não é verdade? Não perco a fé no nosso povo, o que me ajuda a não fraquejar na prisão injusta em que estou faz mais de um ano. Você deve se lembrar que no dia 7 de abril de 2018, ao me despedir dos companheiros em São Bernardo, falei que estava cumprindo a decisão do juiz, mas certo de que minha inocência ainda seria reconhecida. E que seria anulada a farsa montada para me prender sem ter cometido crime. Continuo acreditando.

Todos os dias acordo pensando que estou mais perto da libertação, porque o meu caso não tem mistério. É só ler as provas que os advogados reuniram: que o tal tríplex nunca foi meu, nem de fato nem de direito, e que nem na construção nem a reforma entrou dinheiro de contratos com a Petrobrás. São fatos que o próprio Sergio Moro reconheceu quando teve de responder o recurso da defesa.

É só analisar o processo com imparcialidade para ver que o Moro estava decidido a me condenar antes mesmo de receber a denúncia dos procuradores. Ele mandou invadir minha casa e me levar à força pra depor sem nunca ter me intimado. Mandou grampear meus telefonemas, da minha mulher, meus filhos e até dos meus advogados, o que é gravíssimo numa democracia. Dirigia os interrogatórios, como se fosse o meu acusador, e não deixava a defesa fazer perguntas. Era um juiz que tinha lado, o lado da acusação.

A denúncia contra mim era tão falsa e inconsistente que, para me condenar, o Moro mudou as acusações feitas pelos promotores. Me acusaram de ter recebido um imóvel em troca de favor mas, como viram que não era meu, ele me condenou dizendo que foi “atribuído” a mim. Me acusaram de ter feito atos para beneficiar uma empresa. Mas nunca houve ato nenhum e aí ele me condenou por “atos indeterminados”. Isso não existe na lei nem no direito, só na cabeça de quem queria condenar de qualquer jeito.

A parcialidade dele se confirmou até pelo que fez depois de me condenar e prender. Em julho do ano passado, quando um desembargador do TRF-4 mandou me soltar, o Moro interrompeu as férias para acionar outro desembargador, amigo dele, que anulou a decisão. Em setembro, ele fez de tudo para proibir que eu desse uma entrevista. Pensei que fosse pura mesquinharia, mas entendi a razão quando ele divulgou, na véspera da eleição, um depoimento do Palocci que de tão falso nem serviu para o processo. O que o Moro queria era prejudicar nosso candidato e ajudar o dele.

Se alguém ainda tinha dúvida sobre de que lado o juiz sempre esteve e qual era o motivo de me perseguir, a dúvida acabou quando ele aceitou ser ministro da Justiça do Bolsonaro. E toda a verdade ficou clara: fui acusado, julgado e condenado sem provas para não disputar as eleições. Essa era única forma do candidato dele vencer.

A Constituição e a lei determinam que um processo é nulo se o juiz não for imparcial e independente. Se o juiz tem interesse pessoal ou político num caso, se tem amizade ou inimizade com a pessoa a set julgada, ele tem de se declarar suspeito e impedido. É o que fazem os magistrados honestos, de caráter. Mas o Moro, não. Ele sempre recusou se declarar impedido no meu caso, apesar de todas as evidências de que era meu inimigo político.

Meus advogados recorreram ao Supremo Tribunal Federal, para que eu tenha finalmente um processo e um julgamento justos, o que nunca tive nas mãos de Sergio Moro. Muita gente poderosa, no Brasil e até de outros países, quer impedir essa decisão, ou continuar adiando, o que dá no mesmo para quem está preso injustamente.

Alguns dizem que ao anular meu processo estarão anulando todas as decisões da Lava Jato, o que é uma grande mentira pois na Justiça cada caso é um caso. Também tentam confundir, dizendo que meu caso só poderia ser julgado depois de uma investigação sobre as mensagens entre Moro e os procuradores que estão sendo reveladas nos últimos dias. Acontece que nós entramos com a ação em novembro do ano passado, muito antes dos jornalistas do Intercept divulgarem essas notícias. Já apresentamos provas suficientes de que o juiz é suspeito e não foi imparcial.

Tudo que espero, caro amigo, é que a justiça finalmente seja feita. Tudo o que quero é ter direito a um julgamento justo, por um juiz imparcial, para que poder demonstrar com fatos que sou inocente de tudo o que me acusaram. Quero ser julgado dentro do processo legal, com base em provas, e não em convicções. Quero ser julgado pelas leis do meu país, e não pelas manchetes dos jornais.

A pergunta que faço todos os dias aqui onde estou é uma só: por que tanto medo da verdade? A resposta não interessa apenas a mim, mas a todos que esperam por Justiça.

Quero me despedir dizendo até breve, meu amigo. Até o dia da verdade libertadora. Um grande abraço do

Lula
Curitiba, 24 de junho de 2019

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15 respostas

  1. “Na petição ao Supremo, a defesa do petista diz que, pelos critérios regimentais, o habeas corpus de Lula deveria ser o segundo da pauta. A decisão cabe à presidente do colegiado. Segundo os advogados de Lula, o caso do ex-presidente teria preferência por envolver um réu preso, com mais de 70 anos e já ter tido seu julgamento iniciado pelo colegiado.
    A avaliação de aliados de Lula é que, se o julgamento não for realizado nesta terça-feira, poderá demorar muito a voltar para a pauta. A apreciação do habeas corpus ficaria para o segundo semestre, mas dependeria de a presidente do colegiado, Cármen Lúcia, marcar a data.”
    https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/06/lula-pede-que-sua-defesa-insista-para-stf-julgar-parcialidade-de-moro-nesta-terca.shtml

    1. Eu compreendo a pressa de Lula, que é também a pressa de boa parte do País por ver a normalidade jurídica voltar à cena nacional. Entretanto, desconfio que seja melhor adiar um pouco. Vingança é um prato que se come frio, diziam meus ancestrais italianos…rsrs E vingança é o sentimento que eu nutro contra essa gentinha da lavajato. Justiça em primeiro lugar, é claro, mas depois um belo prato de vingança ao sugo. E de fato, à medida que avançarem as revelações do Intercept, maior será a derrocada de Moro & gangue.

        1. Mas esse julgamento não tem a ver com ADCs nem com a condenação em segunda instância. É a arguição de suspeição do juiz…assim, imagino que quanto mais ficar evidente que o juiz agiu de maneira parcial, maiores as chances de anulação do processo. Isso, é claro, num país normal, em condições normais de funcionamento do poder Judiciário.

          1. Em tese sim, concordo com você. O problema é que no mundo real não vejo ela pautando o tema nunca.

          2. Não vão discutir a suspeição de Moro nunca, a não ser que escândalo assuma proporções impossíveis de ignorar. O STF não tem mais uma reputação a proteger porque ela já está na lama. Talvez revejam sua posição qdo Moro for preso em primeira instância por prevaricação em cargo público. Talvez.

  2. Era uma das opções ,e eles optaram por ela:

    —–foi GOLPE sim!,fraudamos as eleições sim !, o moro é nosso !vamos manter Lula preso até o fim ! E DAÍ,VÃO FAZER O QUÉ?????—-

    Os sabujos de farda na voz de um de seus componentes mais abjetos ,tinha pedido perpétua ,por qué os togados infames os contrariaríam????

    1. … Esse HC do eterno presidente LULA será apreciado [apreciado, porém não julgado!] quando os nazigolpistas matarem o mártir presidente!
      E nós fingimos que não sabemos deste crime anunciado!
      E nós fingimos que a nossa covardia não é cúmplice deste hediondo atentado!
      País selvagem e pré-medieval!
      Povo de merda!

      1. … Cadê os frouxos parlamentares, governadores, prefeitos e demais representantes do PT para dizer ao mundo que o eterno presidente LULA está convocando o [verdadeiro] povo trabalhador brasileiro às ruas?

  3. No golpe de 1964 existia a possibilidade de ser dada ajuda econômica internacional ao Brasil. Houve o processo de industrialização e muitos investimentos no setor produtivo foram feitos. Os militares ficaram no poder até 1985, abandonando o barco quando a economia começou a patinar. Agora, porém, a situação mundial mudou e quem outrora tinha interesse em investir aqui, se encontra em situação difícil também. Será que eles pensaram na possibilidade do golpe militar falhar e ficarem de uma vez por todas expostos ao restante da sociedade como incompetentes ? Desta vez o gigante do norte pretende apenas se servir de nossas riquezas, sem investir nada.

  4. e sem essa de que tenha sido combinação de última hora. de ser coisa feita depois da eleição, não confere. na coercitiva de lula, bozo já avisado, estava soltando foguete na frente da pf, em curitiba.

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