Leblon: a ofensiva sobre os cubanos do “Mais Médicos” é ofensiva do imperialismo farmacêutico

samdoctor

Imperdível o artigo de Saul Leblon sobre a nova ofensiva contra o programa “Mais Médicos”.

Mostra como o ataque às missões médicas cubanasnada tem a ver com uma atitude de apoio àqueles profissionais. É o ataque à economia cubana, procurando sufocar a segunda maior receita do país, a exportação de serviços médicos.

No seu texto, na Carta Maior, ele vai recuperar esforços históricos de nosso país na busca da produção e comercialização de medicamentos, um setor da indústria dominado por um dos mais cruéis cartéis de grandes empresas multinacionais, americanas, sobretudo.

Estamos aqui discutindo a condição em que Cuba nos manda médicos e deixamos para lá a condição que nos vendem remédios, um mercado monstruoso onde os preços não guardam nenhuma relação com o custo de produção dos medicamentos, mas com sua posição de mercado, seus volumes de aquisição e o peso de cada um no “portfólio dos laboratórios”.

O máximo que nos aceitam é quebrarmos patentes de remédios antigos, cujos direitos contratuais estão vencidos ou a vencer.

O aliciamento de médicos cubanos no Brasil, se está sendo feito com um programa do governo americano, merece resposta de governo, também.

 

O nome disso é escárnio

O sultanato de jaleco branco trata a saúde como um mercado de camelos; alia-se ao conservadorismo retrógrado e tem na embaixada dos EUA um corredor de fuga.

Saul Leblon

Algo outrora inescapável  do epíteto de um escárnio contra o povo brasileiro  está em curso nos dias que correm.

O ruído que provoca — tanto das fileiras do governo, quanto nas de segmentos que se avocam à esquerda dele–  é incompreensivelmente desproporcional a sua gravidade.

Que as sininhos não badalem  e, igualmente, seus carrilhões silenciem, é ilustrativo do fosso existente entre o inflamável alarido anti- Copa bimbalhada nas ruas e a real preocupação com o futuro do país e  a sorte da população.

A Associação Médica Brasileira, em sintonia com a embaixada dos EUA e aliada à coalizão  demotucana, tendo respaldo e torcida da mídia, opera abertamente para destruir um programa de saúde pública emergencial voltado  às regiões e contingentes mais vulneráveis do país.

Não há resguardo das intenções, nem pudor na propaganda da ação.

A entidade que se proclama representante da corporação médica brasileira acolhe e viabiliza deserções de profissionais cubanos fisgados  pelo redil conservador em diferentes regiões e municípios.

O Estado brasileiro  investirá este ano R$ 1,9 bi em recursos públicos nesse programa, para agregar  43 milhões de atendimentos/ano ao SUS a partir de abril, quando o Mais Médicos atingirá seu efetivo pleno, com mais de 13 mil profissionais em ação, sendo seis mil cubanos.

A embaixada dos EUA  no Brasil  –em sintonia com a Associação Médica e lideranças dos partidos conservadores–opera abertamente para que não seja assim.

O  tripé orienta e encaminha pedidos de vistos especiais, a toque de caixa,  para que o maior número de desistentes possa rumar a  Miami, onde os espera a estrutura da ‘Solidariedade Sem Fronteiras’.

A ONG de fachada humanitária  tem como principal negócio –financiado por recursos orçamentários que a bancada cubana assegura no Congresso–   promover e operar deserções em  convênios de saúde firmados entre Havana e 66 países  nesse momento.

São mais de 43 mil  médicos cubanos em ação na América Latina, Ásia e África. Devem atingir  um recorde de 50 mil em dois meses, quando o convênio brasileiro estiver plenamente implantado.

Um aspecto da remuneração desses profissionais deliberadamente pouco divulgado  é que nem todos os convênios internacionais de Havana são pagos.

Na verdade, dos 66 países assistidos nesse momento apenas 26 se enquadram  no que se poderia chamar de prestação de serviços pagos.

Outros  40 países recebem contingentes médicos gratuitamente.

O mesmo ocorre com missões de educação ou esporte.

A ‘exportação’ de serviços rende a Havana, segundo a chancelaria cubana, cerca de US$ 6 bi/ano (três vezes mais que a segunda fonte de divisas do país,  representada pelo turismo).

A exportação de serviços  pagos – principalmente na área de saúde –  financia  as missões solidárias destinadas a países de extrema precariedade econômica e material ou focadas em situações de calamidade devastadora.

É assim desde 1960,  quando Cuba enviou  sua primeira missão de solidariedade ao Chile, vítima de um terremoto.

Eis a principal razão para a diferença entre o salário efetivamente recebido pelo profissional de uma missão e aquilo que o governo cubano arrecada pelo serviço prestado.

Uma parte do  saldo  financia as missões gratuitas que, repita-se,  são a maioria.

Outra sustenta a Escola Latino-americana de Medicina, que possuía em 2013 cerca de  14 mil alunos estrangeiros,  gratuitamente cursando ou com subsídio quase integral.

Com pouco mais de 11 milhões de habitantes, Cuba investe pesado em pesquisa na área de saúde e formação de médicos:  são quase 83 mil (1/138 habitantes).

O investimento tem duplo objetivo: zelar pela população que tem a menor taxa de mortalidade infantil do mundo, e gerar receita numa economia asfixiada  há 50 anos pelo embargo comercial norte-americano.

Também isso se financia através das missões remuneradas.

A ideia de que a doutora Ramona Rodriguez possa ter  desembarcado no Brasil desinformada dessas particularidades acerca de seu salario, subestima a conhecida determinação de Havana, de ressaltar interna e externamente aquela que é a marca inegável de sua ação internacional: a solidariedade.

A mesma alegação de ignorância tampouco se pode conceder –neste aspecto–  ao colunismo isento, que cuida de  festejar as deserções  –por  ora pontuais —  como se fossem o preâmbulo de uma diáspora libertária, em marcha épica rumo a Miami.

A participação  da embaixada norte-americana no jogo de aliciamento e hipocrisia  é ainda mais grave.

Trata-se de uma tentativa de sabotagem de um programa soberano de saúde pública emergencial, cujo desmonte poderá agregar novas vítimas e mais sofrimento num universo de milhões de brasileiros desassistidos.

Se a intrusão é desconcertante, não se pode dizer que surpreenda.

Quando o governo Lula decidiu quebrar a patente de anti-virais , em 2007, a embaixada norte-americana operou para sabotar a medida.

Agiu em contato direto com as múltis do setor farmacêutico, o Departamento de Estado do governo Bush  e ‘amigos’ locais — não se sabe se os mesmos que hoje cerram fileiras com o duplo interesse de  implodir o ‘Mais Médicos’ e sangrar Havana.

Telegramas  secretos da época, obtidos pela organização  Knowledge Ecology International (KEI),  revelam ameaças de represália enviadas então a Brasília:

“(…) uma licença compulsória pode fazer com que fabricantes de produtos farmacêuticos evitem introduzir novos remédios no mercado e seria mais difícil para o Brasil atrair os investimentos que tanto necessita”, relatava um deles sobre o teor de reuniões com autoridades e políticos locais.

Lula oficializaria em maio de 2007 o licenciamento compulsório do anti-retroviral  Efavirenz, usado por 75 mil pacientes de Aids atendidos pelo SUS. Um genérico importado da Índia passou a ser usado ao preço de  US$ 0,45, contra US$ 1,59 cobrado pela  multinacional norte-americana.  Uma  economia de US$ 30 milhões até 2012.

Volte-se um pouco mais no tempo, até as vésperas do golpe de 64,  e lá estarão, de novo,  os mesmos protagonistas, com idênticos propósitos.

O embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, fileiras udenistas e lacerdistas, múltis do setor farmacêutico e sabujos da mídia, a ganir a pauta da estação.

Eram tempos de inflação galopante e dinheiro curto: a saúde corria risco.

O então ministro da Saúde, Souto Maior, lutava para obter uma redução de 50% sobre os preços de 70 medicamentos mais usados pela população.

Laboratórios das multinacionais abriram guerra contra o tabelamento.

Às favas a saúde: primeiro, os interesses das corporações.

Lembra algo do comportamento atual da embaixada que se orienta pelos mesmos valores e da Associação Médica Brasileira que tanto quanto os abraça?

No famoso comício da Central do Brasil, sexta-feira, 13 de março de 1964, João Goulart decretou a expropriação de terras para fins de reforma agrária, encampou refinarias e anunciou estudos para fabricação estatal de medicamentos no país.

O conjunto era fiel aos preceitos do ‘sanitarismo-desenvolvimentista,’ abraçado  então pelas fileiras progressistas da medicina brasileira.

Médicos como Samuel Pessoa, Mário Magalhães,  Gentile de Melo e Josué de Castro –autor do clássico ‘Geografia da Fome ‘ e primeiro secretário- geral da FAO, que faleceu no exílio , cassado pela ditadura e impedido de retornar ao Brasil mesmo para morrer – eram alguns de seus  expoentes.

Profissionais que hoje seriam olhados com suspeita, enxergavam a luta pela saúde como indissociável da luta pela desenvolvimento econômico e humano do país.

Em setembro de 1963, Jango, com apoio deles,  restringiu a remessa de lucros da indústria farmacêutica. Mister Lincoln Gordon foi à luta:  a USAID retaliou no lombo da pobreza cortando a ajuda no combate à malária – que se destacava como uma das principais doenças tropicais na época.

A ofensiva apenas fortalecia as convicções dos sanitaristas-desenvolvimentistas.

Embora heterogêneos nas filiações ideológicas, seus  representantes  entendiam que doença e pobreza  caminhavam juntas. Como tal deveriam ser enfrentadas  em ações soberanas, abrangentes e desassombradas, que rompessem a fragmentária  estrutura de uma sociedade retalhado por interesses que não eram os de seu povo.

Compare-se isso com o sultanato de jaleco branco.

Esse que  hoje trata a saúde como um entreposto de camelos; alia-se ao conservadorismo mais retrógrado  e tem na embaixada dos EUA um corredor de fuga em prontidão obsequiosa.

Bajulado pela mídia, o conjunto quer implodir o ‘Mais Médicos’.
O nome disso é escárnio. E Brasília deveria dizê-lo  claramente ao embaixador gringo, ao chamá-lo a prestar esclarecimentos sobre ingerência e sabotagem em assuntos internos.

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14 respostas

  1. REDE BANDIDA SONEGADORA GLOBO, EUA, PSDB, AMB, UM MONTE DE MERDA DE LIXO, VAGABUNDOS, HIPÓCRITAS, CANALHAS, FEDORENTOS !!!!!!!

  2. Sou completamente a favor do Mais Médicos, só me preocupo com o regime jurídico de contratação dos mesmos e, em especial, com os cubanos.

    O governo afirmou ter feito sólido estudo jurídico antes de iniciar as contratações. Então, o MPT não deveria sequer ter argumentos para pensar em propor uma investigação sobre as relações trabalhistas em questão.

    Como somos todos defensores da CLT e lutamos para fortalecê-la, espero que a oposição (PiG, parte do MP, parte do judiciário e os partidos de oposição – esses sim – legítimos) não consiga modificar o regime de contratação desses médicos.

  3. Achar que nosso POVO é um POVO idiota, é o mesmo que entrega-lo de mão beijada a DIREITA.
    Penso assim. porque o Pedreiro que trabalha das 5 as 20 horas ( fora de casa), não tem o tempo que eu tenho para saber algo mais aqui e acola.
    Um POVO que sabe o que ocorre não só nos dias de palanque onde as informações são mais na base do coração.
    Acharia muito BOM o governo ter um porta voz nas TVs…ou outro meio de comunicação direta.
    A internet esta aí, todo mundo diz que é o YP da comunicação….
    Não é, é do entretenimento, e dos Bçac Bçlocks, tendo eles distrai-se os brasileiros que trabalham e levam o BRASIL nas Costas.
    Não querem dar a ele nem a Possibilidade da COPA em seu País.

  4. E assustador! So desejo que essa gente perfida, se veja acometida de um comixao no rabo, incuravel com qualquer medicamento. Fuzzzz!

  5. O programa Mais Médicos não precisa ser acatado por organizações fabulosas, tão pouco pela elite, que dele nunca há carecer. Basta que esse programa seja aplaudido e bem-recebido pelos que realmente estão dele se servindo. Todos os brasileiros que hoje tem um médico apenas num consultório do seu município, ou aldeia, estão super contentes, felizes da vida, pois nunca viram disso na vida, e estão se vendo agora com mais dignidade. Simples assim.

  6. O problema é que o governo, como os senadores do PT, são uns covardes e ou incompetentes. Vejam o que a direita vem fazendo com ” as manifestações espontâneas “. O que o governo ou a PF fez à respeito? Nada. Corremos o risco desta direita golpista criar o caos na Copa, para atingir seus objetivos eleitorais. Falta coragem e competência para enfrentar todos estes problemas. Em relação ao mais médicos, como mencionado no texto, já teria tido ” uma conversinha ” com o embaixador americano. E com estas entidades fascistas ditas médicas, já teriam que ter enquadrado-os a muito tempo. Agem deliberadamente contra o governo e suas políticas públicas e contra os interesses do povo brasileiro.

  7. Pois acho mais,com respeito à sugestão de um dos internautas,feita acima e sugiro também,que o Governo Federal,estenda a VOZ DO BRASIL,para ser transmitida também,pela Televisão e Internet!

  8. Os laboratórios americanos não agem muito diferentemente quando se trata da saúde dos americanos. São bandidos contra o povo, daqui e de lá.

  9. Nesse caso, especificamente, fico INDIGNADO com o comportamento da Igreja CATÓLICA, da ausência dela tomar o microfone e se manifestar pela defesa desses milhares de Brasileiros dos confins desse imenso País, que vivem renegados pelos que deles se negam cuidar.
    Onde esta essa Igreja Cristã, que vive a dar pitecos em tudo, inclusive na politica, onde esta a INDIGNAÇÃO do Santo PAPA FRANCISCO, esse HOMEM apontado como uma revelação da mais augusta das caridades.
    Outro dia um alguém me falou que com o Projeto de levar a água do Rio São Francisco para reduzir a escassez de água dos mais necessitados, em muito vai reduzir as procissões e as promessas que cultua a seca, assim como vem sendo o fácil acesso as Universidades, o que tem levado a uma grande redução de promessas e promessas em busca de um filho ou ente adentre a Universidade. Não estou de pleno acordo com o que esse conhecido me disse, muito embora, noto que nos distantes interiores do Brasil, a ausência de médicos obriga os mais necessitados a recorrerem as promessas em busca de milagres, e assim a cura dos seus males, o que os aproxima mais das religiões.
    Compete a Igreja Católica, que se assume como a grande líder religiosa a intervir pelos mais necessitados, e num extremo da necessidade de salvar milhares de vidas, venha a exorcizar ou mesmo excomungar essa AMB e todos que se opoen a esse ato de quase caridade, pelo qual um dia a nossa querida Arns deu sua vida lá no Haiti, e mesmo a nossa Irmã Dulce. Que se manifeste esses que se dizem protetor dos menos favorecidos e mais carentes. Se manifeste PAPA FRANCISCO, onde esta tú, onde esta sua Internet, por que se calas.

  10. Com a regulamentação da mídia engavetada, quem tem coragem de fazer um ato desses contra os EUA??

    Será o país mais forte da américa e o brazil (com Z mesmo), aliciado pela mídia, contra aquele que ousar fazê-lo!

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