Leandro Fortes: Ministério do Esporte de FHC também financiou Valério

O jornalista Leandro Fortes, da CartaCapital seguiu a pista de um débito relativamente “modesto” – 74,6 mil reais – que o Tribunal de Contas da União permitiu a Laerte Rímoli parcelar, para encontrar um desvio de mais de R$ 10 milhões de reais do Ministério do Esporte, nos dois últimos anos do Governo Fernando Henrique Cardoso em favor da agência do publicitário Marcos Valério.

Curioso é que Rímoli é destacado acusador, na internet, do que diz ser a corrupção de José Genoíno e José Dirceu. Diz que atestou notas frias de publicidade por “sua estupidez” (palavras do próprio) administrativa. Que não devia ser assim, porque há mais de 20 anos, cuidava da Secretaria de Comunicação de Moreira Franco, no Governo do Rio de Janeiro.

Aliás, como contribuição a Fortes, informo que não é a primeira vez que Rimoli enfrenta problemas deste tipo: no Inquérito 964 RJ, do STF, o  Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra Wellington Moreira Franco, Laerte de Lima Rimoli e Herval Basílio, pela suposta prática do delito de peculato (modalidade “desvio”), tipificado no artigo 312 do Código Penal.

 O inquérito foi desmembrado, porque Moreira Franco, à epoca, era deputado federal e Rimoli não tinha foro privilegiado.

Outra fonte do valerioduto

Leandro Fortes

Em 18 de setembro, uma decisão burocrática do plenário do Tribunal de Contas da União levantou a ponta de um novelo escondido desde 2005. Por unanimidade, os nove ministros do TCU acataram o parcelamento de um débito judicial do jornalista Laerte de Lima Rimoli, ex-chefe da Assessoria de Comunicação Social do antigo Ministério do Esporte e do Turismo, no fim do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso. Entre 2001 e 2002, segundo auditoria do tribunal, o ministério, comandado por Carlos Melles (maio de 2000 a março de 2002) e Caio Carvalho (março de 2002 a 1º de janeiro de 2003), desviou 10,6 milhões de reais para a SMP&B Comunicação, uma das agências de publicidade controladas por Marcos Valério de Souza, operador dos “mensalões” tucano e petista.

Naquela época, o publicitário mantinha laços estreitos com o esquema eleitoral do PSDB. Em 1998, ele havia montado a operação de financiamento clandestino da fracassada campanha de reeleição de Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais, gênese do esquema mais tarde replicado pelo PT. O rastro de dinheiro descoberto pelo TCU, graças a uma auditoria feita em 2001, demonstra que o “valerioduto” tucano funcionou até as vésperas das eleições presidenciais de 2002, possivelmente para cobrir compromissos das campanhas de 1998 tanto de Azeredo, hoje deputado federal, quanto de FHC.

No resumo feito pelos auditores a partir da avaliação de contratos firmados pelo ministério, revelou-se um emaranhado de fraudes montadas para financiar a agência do publicitário. Entre as irregularidades, os fiscais do TCU anotaram o pagamento de aditivos desnecessários, utilização de serviços sem respaldo contratual, ausência de fiscalização de contratos, pagamentos feitos sem comprovação da execução do serviço e emissão de notas fiscais frias. Curiosamente, as auditorias foram estimuladas pelas denúncias da CPI dos Correios em 2005, base do processo do “mensalão” petista.

O primeiro contrato analisado, de maio de 2001, tratava de uma licitação de 4,3 milhões de reais para a prestação de serviços de publicidade. Segundo o edital, o objetivo era municiar campanhas na área de esporte, promover o turismo em municípios e incrementar a “comunicação do governo”. Ao todo, 22 empresas concorreram. Em primeiro lugar ficou a SMP&B. Mas, como cautela nunca é demais, a segunda colocada foi a DNA Propaganda, também de Marcos Valério.

Em 2005, o plenário do TCU, baseado nas auditorias, condenou quatro servidores do ministério a ressarcir os cofres públicos por conta dos pagamentos irregulares. São eles Adeildo Máximo Bezerra, ordenador de despesas da pasta, e os três chefes da Assessoria de Comunicação Social no período, Estanilau da Costa Sá Júnior, Isabel Cristina Tanese e Rimoli.

Rimoli, ocupante do cargo entre julho e dezembro de 2002, foi condenado a pagar 74,6 mil reais. O assessor emitiu sete notas fiscais frias em favor da SMP&B no valor total de 30,6 mil reais por anúncios jamais justificados. Outros 44 mil reais foram pagos à agência pelo “manuseio e expedição de 50 mil correspondências” jamais postadas, de acordo com a auditoria.

A participação de Rimoli nas tramoias auditadas pelo TCU, sobretudo nas operações fraudulentas de emissão de notas para financiar o valerioduto, certamente chocará seus seguidores nas redes sociais. Na arena virtual, principalmente no Facebook, o jornalista é um leão contra os “mensaleiros” do PT. “Eu quero acreditar que o ser humano é intrinsecamente bom. Mas um fato recente abala essa convicção. Zé Genoino, o mensaleiro do PT que teve a indulgência do STF e ficará em prisão domiciliar, ameaça assumir uma cadeira na Câmara”, lamentou o jornalista, no fim do ano passado, em um post no Facebook. “Trata-se de um político que perdeu as cordas vocais depois que assinou, em nome do PT, empréstimos fraudulentos quando presidente do partido”, acusou, logo ele,  responsável por notas fraudulentas em favor do mesmo Marcos Valério.

O jornalista também se mostrou indignado por causa de críticas do ex-ministro José Dirceu à ex-ministra Marina Silva, hoje no PSB, segundo mensagem postada no Twitter em 5 de outubro:

Laerte Rimoli@RimoliLaerte
Zé Dirceu, chefe da quadrilha do mensalão do PT, condenado pelo STF, cobra humildade da Marina. Escárnio. Vai pra cadeia, cara.

Corrigida, a dívida de Rimoli soma 179 mil reais. Foi justamente para evitar o bloqueio de seus bens pela Justiça que o jornalista entrou com o recurso no TCU para dividir o pagamento em 36 parcelas, a partir do início deste mês.

Procurado por CartaCapital, o ex-assessor do ministério informou ter assinado documentos referentes a pagamentos feitos por gestores que o antecederam no cargo por ordem de Walter Alvarenga, chefe de gabinete do ministro Caio Carvalho. Mas, segundo o TCU, as notas frias foram emitidas para a SMP&B entre julho e dezembro de 2002, período em que Rimoli ocupou a função no ministério. Confrontado com a informação, o atual assessor parlamentar do PSDB alegou ter agido com ingenuidade e ter sido vítima da própria “estupidez” gerencial e administrativa. “Sou jornalista, não burocrata.”

Em um dos contratos, descobriu o TCU, embora os recursos tivessem sido destinados para três “Programas de Trabalho”, apenas dois foram consignados, uma forma de gerar verbas excedentes a serem relocadas em outros contratos. Em seguida, uma série de aditivos foi autorizada de modo a aumentar o valor dos contratos. Em um deles, houve uma prorrogação de maio de 2001 a 30 de setembro de 2002, três dias antes das eleições presidenciais (o tucano José Serra perdeu para Lula).

Entre os artifícios usados no ministério para colocar dinheiro no “valerioduto”, constatou-se até uma excursão a Brasília, em novembro de 2001, de 84 estudantes do curso técnico de turismo de um colégio estadual de São Sebastião do Paraíso (MG), terra do então ministro Melles. O roteiro incluiu passeios pela capital e almoço em uma churrascaria. Para organizar o “evento”, a SMP&B recebeu 45 mil reais. Os auditores descobriram ainda que a empresa subcontratada para organizar a visita dos colegiais, a MultiAction, também pertencia a Marcos Valério.

Os ministros Melles e Carvalho não foram responsabilizados pelo TCU. Melles, atualmente deputado federal pelo DEM de Minas Gerais, pertencia ao antigo PFL quando titular da pasta. Em 2011, então secretário de Transportes e Obras Públicas de Minas, foi condenado por improbidade administrativa, ao lado da mulher, Marilda Melles, ex-prefeita de São Sebastião do Paraíso. Os dois foram denunciados pelo Ministério Público do Estado por usar recursos públicos para promoção pessoal. Em 2012, foi obrigado a deixar o cargo e reassumir sua vaga na Câmara dos Deputados.

Carvalho, último ministro da pasta na era FHC, foi presidente da São Paulo Turismo S.A., órgão de promoção turística e eventos da cidade de São Paulo entre 2005 e 2011, nas administrações de Serra e Gilberto Kassab. Atualmente,  ele é diretor-geral da Enter, empresa de eventos do Grupo Bandeirantes de Comunicação.

 

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16 respostas

  1. Vocês sabiam que a França tem 39 partidos políticos oficialmente registrados, e a Alemanha tem 36 partidos oficialmente registrados?

    E ainda assim, ambos os países são reconhecidos como exemplos de democracias funcionais e desenvolvidas.

    Aí nos aparece o senhor Joaquim Barbosa dando pitaco de que o Brasil tem “partidos demais”. Ele deve estar querendo reduzir o Brasil à mediocridade do bipartidarismo norte-americano. Vai ver tem saudades do tempo em que só havia Arena e MDB.

  2. Essa tungagem da casa grande vem da época de Cabral.
    So esta faltando colocar esse ladroes na cadeia.

  3. E agora Presidente! Vai mostrar o sigilo, ou vai se esconder no banheiro da ABL. Que ducha de agua suja!

  4. Uma coisa e uma coisa. Outra coisa e outra coisa. Donde se conclui que sao coisas completamente diferentes. Nao misturem as coisas. Assim nao pode, assim nao da.

  5. Nossa justiça é mole e indolente. Colhe-se tantas provas e parece que de nada adianta. Os bagres continuam nadando enquanto os lambaris são presos.
    Falcatruas devem ser punidas seja de qualquer partido for.
    O poder é subserviente aos interesses dos canalhas.

  6. Marina reclama de declaração do vice do PSB. Quer saber o que ele disse?

    8 de outubro de 2013 | 21:50

    Na entrevista que concedeu ao Estadão, hoje, Marina Silva reclama que o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, ter dado “uma declaração bastante dura contra a Rede” e elogia o fato de que “o governador Eduardo Campos fez questão como presidente de fazer uma nota dizendo que a Rede tinha direito de se constituir como partido”

    Fiquei intrigado e fui procurar a tal declaração “bastante dura” de Amaral.

    Achei, você quer ler?

    “Vice-presidente nacional do PSB, o ex-ministro Roberto Amaral disse que o partido articulado pela ex-senadora Marina Silva é “fundamentalista” e preconceituoso”. O dirigente do PSB afirmou ter poucas informações sobre o movimento político orquestrado por Marina, chamado de Rede Sustentabilidade, mas disse que a futura legenda é “sem caráter”.

    “Ainda não tive muita informação, mas até aqui é um negócio fundamentalista, religioso e preconceituoso. Ainda não vi política nele”, afirmou Amaral, ao chegar ao hotel em que será celebrada a festa de dez anos do PT no comando da Presidência da República, na capital paulista.

    “O partido é sem caráter. Não digo isso no sentido moral, mas no sentido de não ter definição programática. Ainda não disse para que veio”, declarou, ao ser questionado por jornalistas sobre o partido articulado pela ex-senadora, ex-ministra e candidata derrotada à Presidência em 2010.

    Que maravilha! Então, o Dr. Amaral vai dividir o comando da campanha de Campos com um grupo que considera “fundamentalista, religioso e preconceituoso” e que é “sem caráter”? E isso não foi dito há dez anos, foi agora, em fevereiro deste ano.

    Imaginem isso num debate na televisão…
    Por: Fernando Brito

  7. Ela já participou também de um episódio relatado pela Band e/ou Record (faz um tempinho)em que ela e um grupo chic, da elite dela, inclusive Boninho, jogavam ovos de cima de uma janela de um edifício alto, quem sabe, “um palacete assobradado” (desculpe, Adoniran), nos passantes da avenida. É ou não é um grande cabedal?

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