Força de Lula e Dilma no interior está longe de ser só o “Bolsa Família”

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Brizola contava, volta e meia, seu diálogo com o líder da independência de Moçambique, Samora Machel, quando perguntou-lhe quantos eram, afinal, os moçambicanos, já que havia incerteza quanto à população do país.

Machel disse-lhe: bem, os das cidades sabemos. Os outros são como os elefantes: só os vemos quando saem da selva.

O Brasil das metrópoles – imenso – não conhece mais o Brasil das pequenas cidades, dos sertões e matas, que é imenso também.

Tornaram-se escondidos e seguiam esquecidos.

A ausência do poder público federal – nas grandes cidades, município e estado suprem, em parte este vácuo – deixou fora do processo de modernização da vida do país.

Os governos Lula e Dilma impulsionaram as parcerias diretas com os mais de 5.500 municípios brasileiros.

90% deles têm menos de 50 mil habitantes e, somados, reúnem um terço da população brasileira.

Em entrevista publicada hoje no Estadão, o cientista político Vitor Marchetti diz que é um erro atribuir a popularidade de ambos, nas pequenas cidades – os famosos “grotões” – ao Bolsa- Família.

Para ele, é “pouco verdadeiro atribuir ao Bolsa Família o avanço que o PT teve em regiões mais pobres, em municípios pequenos e médios do interior do País.”

– O que tem impacto eleitoral é um conjunto de políticas públicas que começaram a ser adotadas no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que são focadas em regiões onde a presença do Estado sempre foi muito fraca, como o Norte e o Nordeste do País. Falam do Bolsa Família mas esquecem do Luz Para Todos, que leva energia elétrica para o sertão nordestino, para as regiões mais esquecidas da região Norte. Esse programa é um exemplo do movimento que intensificou a presença do governo federal nas regiões mais carentes. O fenômeno político importante a ser analisado no momento é esse: o gigantesco aumento das parcerias do governo federal feitas diretamente com os municípios. Isso aconteceu porque os municípios tinham assumido várias prerrogativas que não tinham condições de cumprir. (…) Os municípios assumiram a responsabilidade, entre outras coisas, pela construção de creches e os serviços básicos de saúde. Mas eles não têm condições para isso. O que o Lula fez, então? Intensificou as alianças do governo federal com os municípios. O repasse direto de recursos federais para eles, nas áreas da saúde e educação, aumentou muito. Quase todos os municípios estão construindo creches atualmente, mas quem verificar com atenção a origem dos recursos irá constatar, quase invariavelmente, que provêm de algum programa específico do governo federal para o setor. Eles revelam o quanto o governo federal pegou atalhos para se tornar mais presente na vida do cidadão, no seu cotidiano. Isso aconteceu principalmente em municípios do Norte e Nordeste.

O Brasil “invisível” começou a ser visto, e é isto que o conservadorismo brasileiro não vê.

Num país com a nossa extensão e complexidade, o Governo Federal não pode ser apenas o gestor da macropolítica ou da macroeconomia, como querem os tecnocratas e mero repassador de recursos para os municípios.

Tem de fazê-lo, mas, ao mesmo tempo, tem de ser o indutor da aplicação destes recursos, direcionando-os de forma exclusiva, com contrapartidas administrativas e direcionamento de projetos.

O “Mais Médicos” é um dos muitos exemplos de programas operacionalizados pelas prefeituras, com recursos federais, e regras definidas.

Do contrário, a simples descentralização de recursos e da administração será, como sempre foi, um mero processo de cooptação de chefes políticos locais.

 

 

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5 respostas

  1. Paulo Zolin: Haddad dá parque ao povo; Serra deu parque à Globo
    publicado em 25 de dezembro de 2013 às 16:27

    Paulo Zolin: Haddad dá parque ao povo, Serra deu parque à Globo

    dezembro 25th, 2013

    Do blog da Maria Frô

    Diferenças entre o modo de governar do PT e do PSDB:

    O Pinheirinho da Rede Globo foi legalizado pelo Estado?

    Por Wilian César

    27/01/2012

    O mesmo governo que não legalizou o Pinheirinho, presenteou a Rede Globo de Televisão com um terreno de R$ 11 milhões.

    No último domingo, a Polícia Militar de São Paulo usou de sua peculiar truculência para expulsar as 1600 famílias do acampamento Pinheirinho, em São José dos Campos, interior de São Paulo.?A área foi devolvida ontem para a massa falida da empresa Selecta, do especulador Naji Nahas.

    Durante os oito anos de ocupação,o prefeito José Eduardo Cury (PSDB) procurou dificultar ao máximo as negociações para que o terreno fosse declarado como “Zona especial de interesse social”, medida necessária para desapropriar e legalizar a área para os moradores.

    Depois foi a vez do governador Geraldo Alckmin recusar qualquer acordo. Mesmo havendo a oportunidade de solicitar um prazo junto à Justiça para adiar a reintegração e tentar uma decisão conjunta com os governos municipal e federal, ele resolveu colocar a polícia em campo e deixou toda aquela gente na sarjeta.

    O interessante nessa história toda é que o governo não apresentou o mesmo comportamento quando a invasão partiu do maior canal de tv do país.

    É dela mesmo que eu estou falando, a Rede Globo de Televisão.

    Para quem não conhece a história, durante 11 anos a Rede Globo se apropriou de um terreno público localizado ao lado de sua sede em São Paulo.

    O local fica em uma da regiões mais cobiçadas pelo mercado imobiliário, tem 11.600 metros quadrados e está avaliado em R$ 11 milhões.

    A emissora dos Marinhos cercou e transformou o lugar verde de praça pública em espaço privado, de modo que qualquer cidadão (não global) que se aproximava era barrado e expulso pelos seguranças.

    Em 2010, a denúncia da invasão foi ao ar no programa Domingo Espetacular, da Rede Record, então o governador José Serra resolveu legalizar o terreno para a Globo.

    Na tentativa de abafar o caso, Serra e Globo firmaram um convênio e decidiram construir uma escola técnica no local. A instituição não visa oferecer cursos de interesse do público, mas sim da própria emissora: Multimídia e Produção de áudio e vídeo.

    Só para variar, Serra ainda batizou o lugar de “Jornalista Roberto Marinho”.

    Governo e Globo se saíram bem na história, e não deram ao povo nenhuma explicação sobre os anos de ilegalidade do canal e omissão do Estado.

    Já pensou na Polícia Militar expulsando os executivos da “vênus platinada” com tiros de borracha, bombas, cachorros e cassetetadas?

    Abaixo o parque Agusta, agora definitivamente sancionado por Haddad para a população de São Paulo??.

    PS do Viomundo: Notem que o projeto do parque é de autoria da oposição a Haddad.
    Não paga impostos mas vive de favores públicos… PLIM PLIM

  2. O Governo Federal aumentou sua presença nos munícipios do interior brasileiro. Mas minha duvida é se as pessoas dessas cidades tem realmente noção da participação federal. Não é incomum encontrar prefeitos dessas cidades se promovendo e deixando a população entender que tudo é resultado apenas de seu “trabalho”!

    1. Exatamente isso acontece no estado de Goiás, o governo federal entrega bilhões para o governador fazer obras e ele se dá todos os créditos, deixando o povo acreditar que o mérito é somente dele.

  3. interessante, locatelli, se vc fizesse um comentario mais longo sobre quais desses programas.polit.publicas q vc listou, sao permanentes, quais reversiveis e quais meio que flexibilizáveis… no futuro..

  4. Moro em Fortaleza desde 1977. Desde então, conheci algumas secas que assolam periodicamente a região do NE, nenhuma tão inclemente como a atual. Naquelas secas, a capital cearense costumava ficar repleta de flagelados, e, quando a ocasião era propícia, saqueavam supermercados ou caminhões de mantimentos, o que ocorria também no interior. A literatura está cheia de episódios como este, narrando saques na capital e no interior. Na atual seca, a mais rigorosa das últimas décadas, mesmo com as consequências trágicas que sempre traz como perda da safra, morte do rebanho e outros efeitos danosos, não vemos as antigas levas de flagelados e nem temos notícias de saques como anteriormente. Os vários programas sociais do governo federal são responsáveis por minorar significativamente o sofrimento da população do interior. Seria interessante uma pesquisa sobre esta nova realidade enfrentada pelos nordestinos.

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