Uma das características mais marcantes dos processos políticos suicidas é que tudo começa a ser regido pelo “agora a coisa vai” que os brasileiros conhecem já faz tempo.
É o que, também há décadas, se conhece com o wishful thinking, que pega fragmentos selecionados da realidade e com eles fundamenta o que é um simples desejo.
É isso o que está ocorrendo neste momento, com os mercados financeiros nacionais excitadíssimos com o que seriam sinais positivos de iminente recuperação da economia devastada pela pandemia.
Aliás, recuperação que forçam monstrousamente, levando os governantes a alargarem as já frouxas medidas de isolamento social no momento em que a expansão da pandemia do Covid-19 bate recorde sobre recorde de casos e de mortes.
Para isso, vale até atrasar a divulgação de números espantosos como os de ontem, para com isso driblar as manchetes dos jornais.
Olhemos os pedaços de realidade para construir-se uma sensação de que o desastre não será tão feio como estava sendo pintado.
O “aumento de um por cento” no desemprego medido pela taxa do IBGE que, tempos atrás, aqui já se disse não valer nada nestes tempos anormais. Isso absolutamente não corresponde à realidade e os próprios números do Instituto mostram que quase 5 milhões de postos de trabalho, formais e informais, fecharam-se em abril.
Tudo indica que isso se repetirá, talvez com mais gravidade em maio e seguirá em junto, não só porque não cessaram as causas da retração como fracassou, reconhecidamente, a política de financiamento das folhas de pagamento das micro e pequenas empresas.
Idem dizer-se que a queda na produção industrial teria significasse que o “fundo do poço não foi tão profundo quanto se imaginava“. O fundo do poço, se é que chegou, não é um platô, mas uma lama onde a indústria se atolará por muitos meses. O que amenizou em 1 ou 2% no dados de queda esperado deveu-se ao setor extrativista (ferro e petróleo) cresceu 10%, impulsionado pela alta do dólar e pela demanda chinesa após a redução do início do ano, justo pela pandemia.
A onda de euforia no mercado financeiro, Bovespa à frente, não tem qualquer base, seja a material (o lucro das empresas), seja a de política econômica (patente a dificuldade em se manter o plano Guedes de privatização generalizada.
A realidade à frente é duríssima e será de uma recessão prolongada que nos levará a uma queda em torno de 10% no PIB.
O nosso governo, em lugar de enfrentá-lo com um projeto consistente de investimento público que supra o desaparecimento da inversão privada (a estrangeira, sobretudo), prefere negar a realidade.
E mandar a classe média para os shoppings para, claro, não comprar senão quinquilharias, porque não há nem dinheiro nem segurança para gastá-lo.