Bolsonaro manobra pelo caos

Bernardo Mello Franco, hoje, em O Globo, faz uma interessante observação sobre a “bancada da selfie” da Câmara dos Deputados, dizendo que se “as redes sociais ajudaram a eleger boa parte dos novatos” do parlamento, “agora a devoção ao smartphone começa a cobrar seu preço”, pois “obcecados pelos aparelhinhos, os parlamentares prestam pouca atenção no que acontece à sua volta”.

O ótimo analista fixa sua análise nas disputas congressuais, mas acho – e não acho sozinho – que o déficit perceptivo vai muito além das cúpulas de concreto da Câmara e do Senado.

Discursos sobre déficit público e equilíbrio fiscal não costumam aplacar situações agravamentos de crise como a que estamos vivendo e ninguém que não esteja disposto a iludir ou a se iludir pode deixar de entender que a tal “potência fiscal” de Paulo Guedes, ainda que a reforma passasse como veio e amanhã, é zero este ano e uma “merreca” em 2020, para quando o Ministro da Economia prevê o caos.

O resto é wishful thinking, uma maneira cult de dizer o velhíssimo contar com o ovo, digamos, dentro da galinha: a suposta avalanche de  investimentos estrangeiros que nos prometem desde a derrubada de Dilma Rousseff.

Não é o caso de discutir, aqui, o leque – que é grande – de medidas que se poderia tomar para reequilibrar as contas públicas e reaquecer a economia, enquanto se abre um debate sereno e ponderado sobre abusos previdenciários e o alongamento do período contributivo, progressivo e aceitável.

Inexiste interesse político nisso, porque a crise é ingrediente indispensável ao processo autoritário, porque o justifica em nome do fim da “balbúrdia”, dos “políticos”, dos “corruptos” que seriam os responsáveis por ela.

A questão é que perceber que estamos diante de dois processos políticos que não vão permitir o reequilíbrio do país e, pior, vão arruinar o já quase inexistente arcabouço institucional do nosso – cada vez menos – Estado de Direito.

O primeiro é a imposição total das regras de extrema-direita. Não é por acaso que sequer cumprem os acordos parlamentares que dizem tentar. Deixaram claro, esta semana, que usarão a pressão o quanto puderem, fizeram isso na votação da Medida Provisória 870, ameaçam fazer ao votá-la no Senado e pressionam a Comissão da Previdência atacando os deputados ligados ao grupo de Rodrigo Maia que, apatetado por seu sonho de ser o “queridinho do mercado” não vê – ou não reage – ao processo de erosão de sua autoridade sobre a maioria dos deputados, que está rota, esfrangalhada.

O segundo é o esgarçamento da autoridade de um governo com menos de cinco meses, já abertamente contestado nas ruas e com índices crescentes de rejeição. Pior, que não consegue mais sequer a neutralidade do conservadorismo da mídia que o elevou ao poder.

Exagero? Leiam trecho do comentário de Merval Pereira, o Fernando Henrique da mídia, hoje, na CBN:

“Jair Bolsonaro foi eleito por um grupo que não queria o PT e que via em Paulo Guedes uma garantia para o programa econômico liberal – um grupo que não tem nada a ver com o núcleo duro histórico de seus eleitores tradicionais, de militares e de extrema direita. Mas os eleitores de fora deste núcleo estão começando a abandoná-lo.  Ele anda fazendo muita besteira, entrando numa briga ideológica sem sentido, usando truculência com a opinião pública, imprensa, congresso e STF, que só agrada ao grupo mais radical. A classe média que fugiu do PT está começando a achar esquisito. Se ele não mudar, e acho que não vai, porque á a natureza dele, vai ficar cada vez mais isolado, só ao lado do grupo mais radical, que é minoritário. Ele  está convencido de que chegou à presidência por méritos próprios, mas não é bem assim.”

Agora vem essa ameaça de Paulo Guedes de deixar o ministério se a reforma não sair como ele quer e rápido. Bolsonaro faz a sua parte na dança: se quiser sair, sai, e teremos o desastre.

Sentiu aí, Rodrigo Maia, como Bolsonaro respeita a independência do parlamento e a sua ideia de construir uma maioria?

Maioria, para Jair Bolsonaro não é algo que se conquista negociando, conquista-se intimidado. Domingo, você vai ser chamado de o “Nhonho”, de o “Gol do Botafogo” e, como já se ameaça, nem mesmo a sua tropa parlamentar resistirá.

O linchamento tem poder, viu?

 

 

 

 

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7 respostas

  1. Receita para fazer ovos podres: deixe pelo menos 1 dúzia de ovos espalhados numa bandeja e coloque o dia todo ao sol. Se você fizer isso amanhã, domingo ainda não estará no ponto, mas já dá para jogar. Mantenha a sua mão seca que você terá mais pontaria. Cabelo de madame é o que dá mais prazer em acertar. Se tiver boa pontaria, celular na mão de qualquer sexo também vale a pena.

  2. Essa manifestação de domingo ,qualquer seja seu tamanho é um tiro no pé do miliciasno.Se for insignificante,nem precisa explicar,se for massiva e portanto encorajada e colocada pelos robôs em ponto de ebulhição, será una amostra de bestialidade explícita.
    Os “elogios” ao stf e o congresso junto a seus pedidos de extinção dos mesmos ,deixarão claro aos imbecis que votaram no asno e hoje estão no caminho de se arrepender, o tamanho da besteira cometida.
    Resultado? num caso ou no outro o enfraquecimento e isolamento do governo das milícias,Se isso é bom ou ruim?? isso merece uma analise mais profunda.

  3. Empurrar a cabeça do Brasil para baixo, esta é a missão delegada por Olavo aos que açambarcaram o poder através dos métodos de Steve Bannon.

  4. Não tem perigo de Maia ser associado ao Botafogo no domingo. Só alguns jornalistas da mídia progressista têm obsessão por fazer essa associação desnecessária, sem relevância alguma no contexto e altamente depreciativa para com um clube que nada tem a ver com o assunto.

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