Bala que matou Ágatha não tem “dono”

A Folha divulga as conclusões da perícia do governo do Rio de Janeiro que “conclui” que o projétil que matou na madrugada de sexta para sábado a menina Ágatha Félix, de 8 anos, “não está em condições de ser comparado às sete armas apreendidas com policiais militares que estavam trabalhando na noite em que a menina foi morta”. No corpo, haveria apenas “um núcleo de chumbo endurecido, sem seu revestimento metálico, pesando 4,5 gramas e medindo até 21,55 mm de comprimento” sem “elementos técnicos para determinar calibre nominal, número e direcionamento das raias [ranhuras que indicam o calibre], bem como de microvestígios de valor criminalístico, fato que o torna inviável para o exame microcomparativo”.

Curioso, porque o tiro não foi, ao que se informa, transfixante e, antes de atingi-la, atravessou apenas o encosto do banco da Kombi onde Ágatha estava. Ou seja, simples estofamento em torno de um aramado, nada que pudesse, em princípio, produzir uma deformação que tornasse o projétil irreconhecível.

Muito ruim para um procedimento que começou com um extremo atraso, a começar pela coleta das armas 60 horas depois do episódio. Três delas foram usadas na noite do crime mas, inacreditavelmente, as outras estão ainda fazendo “testes de eficácia” para descobrir, transcendentalmente, “se funcionam”. Mais, a Kombi onde ocorreu o assassinato está retida de forma desidiosa:

A kombi em que ela foi atingida já foi periciada e continua no estacionamento da delegacia, acessível a qualquer um que passa ao lado da unidade, com os vidros abertos. É possível ver a marca do tiro no banco traseiro, mas não há furos no porta-malas, que estava aberto no momento do disparo.

Ou seja, qualquer um pode destruir evidências úteis para um reexame.

Ora, quando todas as testemunhas civis dizem que não havia tiroteio e as autoridades – até o vice-presidente Hamilton Mourão! – dizem que isso “foi coisa do narcotráfico”, a perícia é um elemento fundamental, que não pode ser tratada superficialmente. Se o perito encarregado não conseguiu, que se chamem outros, que se produzam novos exames, que se façam todos os estudos que possam , ao menos, o calibre da arma.

Ao menos isso, se nada deu senão uma bala, o Estado deve a Ágatha.

 

 

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12 respostas

  1. Tem q divulgar isso n0 mundo inteiro
    P isso temos o Jean Wyllis ora bolas
    HUMILHAR a pericia criminal brasileira perante o mundo
    QUEBRAR O ORGULHO desses tecnicos e especialistas perante colegas de outros paises
    DENUNCIAR a promiscuidade entre policia e pessoal da medicina legal
    A tv americana sempre mostra atraves da ficçao CSI etc e nos muitos programas da Investigation Discovery como pode ser feito p encontrar a verdade

    Ou

    Contar com a ajuda do tempo
    O PM q matou sabe q disparou o tiro…
    MORRA
    que o remorso te coma por dentro e se transforme num cancer generalizado e faça vc sofrer muito
    SANGRA MALDITO

  2. De que adianta o excludente de ilicitude ter sido derrubado do pacote anticrime? Os policiais tem licença para matar por direito adquirido.
    O governo não viu nada demais no que aconteceu. E como apenas 50% das pessoas desaprovam esse governo, eles vão continuar reduzindo a pobreza na base do genocídio sem qualquer hesitação.

  3. Essa perícia é tão verdadeira, quanto a fakeada do Bolso, o míssil de papel no Serra, as pedaladas da Dilma, o não foi golpe, e por ai afora.
    Claro que não iria dar em nada, ainda é capaz de processarem a criança, por ficar na frente da bala.

  4. Colocar a “pm” para fazer uma perícia dessa, é como colocar uma raposa pra tomar conta de um galinheiro.
    É FODA !

  5. A Câmara derrubou o excludente de ilicitude do pacote do Moro.

    Mas, como acabamos de ver, não precisa de nenhuma lei nem burocracia pra polícia poder matar pretos e pobres impunemente, precisa?

  6. Metade da educação e treinamento policial deve ser voltada para ensinar como efetuar prisões e impor a ordem ao tempo em que se evitam a morte dos supostos criminosos e desordeiros, e evitando de qualquer maneira que pessoas não envolvidas no evento possam ser atingidas. Não há guerra, para que se mate por extrema necessidade. A guerra que existe é a velha guerra da pequena classe rica contra a enorme classe pobre. O povo indefeso fustigado em pleno século XXI por quem deveria garantir sua segurança, já que todos por princípio deveriam ser iguais perante a lei – entretanto, o que vê é o povo sendo considerado como inimigo em sua própria pátria por uma casta que controla a polícia como os coronéis da República Velha controlavam os jagunços, e isso é uma tremenda vergonha para um país já sem qualquer vergonha.

  7. A camada externa do projétil é fundamental para a identificação individual de uma arma, sem ela só é possível a identificação coletiva, quanto ao laudo emitido pode se fazer algumas considerações:
    1 – verificar se o projétil coletado na vitima é realmente o projétil examinada, ou seja, se foi cumprido todas as etapas da cadeia de custódia;
    2 – um projétil encamisado ao transfixar uma estrutura contendo tecido ele pode remover o seu encamisamento com facilidade e quem contínua é o núcleo que tem várias características que pode estabelecer qual o tipo de arma que utiliza este tipo de projétil, inclusive tem sido utilizado até a composição do chumbo para processar a identificação do mesmo lote;
    3 – a terceira questão, o que foi encontrado no corpo parece que foi o núcleo do projétil, e o encamisamento? Neste caso, se não impactou em outro local, ele tem que estar no veículo, principalmente no encosto, alguma coisa tem que estar por lá. Só com o encamisamento é possível identificar individualmente a arma de fogo. Infelizmente não aparece nenhuma informação quanto ao encamisamento;

  8. Em tudo o que se refere ao negro, ao pobre e à criança, o Estado brasileiro é profundamente incompetente. De propósito, é claro. Harry Shibata vive.

  9. Por enquanto é mais um daqueles episódios, tipo, assassinato de Marielle:
    Vai ser enrolado até quando puder.
    Só não pode ser esquecido, nem pelo povo e nem pela justiça, que tarda… tarda… tarda… falha deveras… tarda… Até que as mentiras, com “pernas curtas”, caiam.

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