As exibições de força acabam levando à fraqueza

Dos lacônicos – como de praxe – comunicados médicos que saem do Hospital Albert Einstein, só uma certeza e pode extrair: se complicações pós-cirúrgicas são sempre uma possibilidade presente em cirurgias e que há um vasto arsenal de providências para contorná-las, fica evidente, também, que nada é um mar de rosas na recuperação de Jair Bolsonaro e há um imenso e imprudente esforço para mostrá-lo “na ativa”, o que é totalmente desaconselhável para um paciente nesta situação.

Seria impertinente avançar em análises sobre o quadro médico, mas é perfeitamente legítimo e natural que se examine o quadro político que decorre no prolongamento da internação do presidente, num governo que começava, de fato, sua ofensiva sobre direitos individuais e sociais e que não tem qualquer organicidade, representando apenas um aglomerado conservador em torno daquele que se apresentou como alternativa de vitória eleitoral a que a demolição das estruturas partidárias e a interdição das lideranças naturais tornou a única opção de vitória nas urnas.

E, neste páreo, contava-se com um sinal de largada dado pela volta de Bolsonaro ao comando político do governo logo ao final da semana passada, o que evidente não aconteceu. Mas os três principais cavaleiros – sem “h”, claro – estavam e  precisavam estar indóceis para fazer sua arrancada: Hamilton Mourão, Sérgio Mouro e Paulo Guedes estavam na ponta dos cascos para agir e o primeiro, aliás, já mordendo o freio em seus pequenos arranques.

Como se frustrou o planejado e a ausência do chefe terá de ser mais prolongada – ainda que teimosamente negado seu impedimento pela natureza imprudente de Bolsonaro (que não se lembra das “flexões” encenadas com bolsa de colostomia e tudo?) e pela necessidade de conterem os arroubos do vice Mourão – o que se assiste é uma tremenda confusão na largada, com algo que nem nas corridas de cavalo se permite, pois é obrigatório “manter a raia” nos primeiros 100 metros da carreira.

Sérgio Moro, talvez até com certo incentivo do quarto contendor – o clã Bolsonaro e seu núcleo, a quem o escândalo do “Filho 01” deixou capenga  -foi o primeiro a avançar, com seu projeto de emendas autoritárias sobre a legislação, ao qual, superando suas próprias vacilações, inseriu um “quase excludente de ilicitude” para as mortes provocadas por policiais. Foi um dos sinais de que se oferece a ser o ponteiro do governo, o que as agora frequentes menções ao “presidente Bolsonaro” nas entrevistas, o que não fazia antes, não escondem.

Paulo Guedes, que não tem torcida, mas monta o poderoso cavalo do mercado financeiro, reagiu promovendo ou deixando acontecer vazamentos de “bodes previdenciários”, exibindo os dentes ameaçadores do “até onde querem ir”, embora isso não seja o mesmo de onde é possível ir.

Querem disputar a ponta de uma corrida que não pode, formalmente, começar antes que Bolsonaro saia, de verdade, do seu impedimento hospitalar e que não pode avançar pela indefinição do que será, de fato, lançado à pista do Congresso. As montarias começam a desgastar-se antes da hora: os coices, cabeçada e empurrões são inúteis e nada producentes.

O terceiro cavaleiro, Mourão, é quem menos se interessa pela disputa destes dois, exceto nos tropeços que lhes possa apontar. Corre na raia interna, com um flanco protegido pela cerca dos quartéis e, do outro lado, protegido pela autoridade do cargo de vice, tão grande que nem mesmo a interinidade Jair lhe permite. Não procura mas deixa a porta aberta para ser cada vez mais procurado.

O quadro político, ainda extremamente favorável ao ajuntamento que se fez em torno de Bolsonaro, começa a criar fissuras que são difíceis de visualizar de fora. Mas se percebem no improviso e falta de coordenação do organismo governamental e que lhe baixam a imunidade contra organismos oportunistas que vivem em profusão no caldo parlamentar.

Sobretudo porque a carga de anticorpos que carregam os recém eleitos vai baixando e o ambiente do hospital da política é propício, mais que propício, a bactérias super-resistentes.

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20 respostas

  1. O apoio a família de milicianos vai derretendo a pretensa “moral” dos milicos que são a base de sustentação dessa ditadura idiocrata. Para os brasileiros civilizados nenhuma luz a vista.
    Para essa camarilha golpista – só trevas, mas é nas trevas é que estão habituados a rastejar.

  2. O que estamos vendo não é surpresa,sería igual ou ainda mais caótico com o ASNO no “comando”.
    O sujeito é um elefante num bazar,quando abre a boca não é para clarificar,mas,para confundir.Óbvio ,não é sua intenção,mas,fruto da sua miserável capacidade cognitiva.
    Até quando vai? pela lógica ,seriam eles os que decidem,mas,a história mostra impérios caindo,não serão estes QUADRILHEIROS sem brilho nenhum que se eternizarão.

    1. Confundir talvez seja intenção sim, pois a eleição de Boçal Nato foi um produto da guerra híbrida.

      1. Para participar de certos esquemas é necessário inteligência.
        A confusão gerada pelo asno se da ,por duas razões,ele é primário intelectualmente falando,e segundo porque ele não era o cara escolhido para estar lá, ele caiu no colo dos executores do golpe,portanto desconhece certos objetivos e procedimentos praticados pelos fardados.
        Quem fala pelos DONOS DO GOLPE é o mulão.(e eles não são fardados nem falam português)

  3. Deus escreve certo por inhas tortas e invisíveis a olho nu ‘viva as bactérias vírus e outros que habitam ali’.

  4. Brito, você e os leitores assistiram ao documentário, mostrando cabalmente a grosseira manipulação do ‘esfakeamento’ do Bozo, no dia 6 de setembro de 2018? O Duplo Expresso tem o mérito de ter mostrado, de forma menos detalhada, mas no mesmo dia, que se tratava de uma encenação grosseira. Posso afirmar, sem medo de errar, que não houve facada alguma e que absolutamente NENHUMA das informações divulgadas por meio de boletins médicos desse hospital israelita de SP é confiável, assim como não eram as que forma divulgadas sobre Tancredo Neves, em 1985, ou sobre o ex-jogador Casagrande, que após um acidente de carro, quando estava sob efeito de drogas ilícitas, recusou atendimento no Hospital das Clínicas, pedindo transferência para o hospital onde hoje se encontra internado o Bozo. Esse hospital divulgou boletins médicos falsos sobre o que havia ocorrido com o ex-jogador; quem afirma isso? O próprio ex-jogador, que registrou isso em fala e por escrito. Meu pai, quando estava com 10 anos mais que o Bozo, foi diagnosticado com grave doença intestinal e submetido a colostomia. Mesmo em casos menos graves, em que a colostomia possa ser revertida, NENHUM paciente a ela submetido faz as “estripulias”, simulações de flexão ou erguimento de troféus com mais de 15 kg, como foi verificado com o Bozo. O cara pode estar com uma doença há mais tempo, mas são absolutamente mentirosos o ‘esfakeamento’ e suposta colostomização do Bozo; esse procedimento poderia ser feito no hospital de JF e não haveria necessidade de transferência para esse hospital israelita de SP, que tem antecedentes de falsificação de boletins médicos.

    1. Concordo com seu post,a “es-fake-ada” é para inglés ver.( e manter o líder da massa imbecil com o rótulo de vítima de conspiração)
      O câncer nos intestinos do sujeito avança a passos longos.
      Assim , em algum futuro ficará provado que o Tancredo foi assassinado ,o asno morreu de câncer e os cómputos das urnas em 2018 foram fraudados.
      Quem viver,verá.

      1. Tancredo não foi assassinado. Tinha um tumor benigno no intestino (um leiomioma) mas a ânsia de tomar posse o impediu de tratar-se corretamente e a tempo. Este tumor perfurou, causou uma peritonite e daí para a frente foram muitas complicações para um homem de 75 anos. Acredite, o diagnóstico da patologia foi correto (conheço o patologista que fez o exame – ele é muito competente) e o que levou a vida do Tancredo foram as complicações causadas pela perfuração. Quanto as duas outras hipótese que você formulou, acho que o futuro dirá com certeza.

    2. Aos interessados, procurem no Google pela expressão “facada no mito”.

      É um vídeo de 56 minutos que analisa quadro a quadro o “esfaqueamento” e levanta muitas questões, como o fato de Adélio não estar sozinho, dele ter sido protegido dos furiosos justamente pelos que estavam próximo a Bolsonaro, além daquele caso misterioso em que policiais mineiros e paulistas trocaram tiros dias depois em Juiz de Fora, num polpudo carregamento de dinheiro vivo.

    3. Aos interessados, procurem no Google pela expressão “facada no mito”.

      É um vídeo de 56 minutos que analisa quadro a quadro o “esfaqueamento” e levanta muitas questões, como o fato de Adélio não estar sozinho, dele ter sido protegido dos furiosos justamente pelos que estavam próximo a Bolsonaro, além daquele caso misterioso em que policiais mineiros e paulistas trocaram tiros dias depois em Juiz de Fora, num polpudo carregamento de dinheiro vivo.

  5. Excelente texto, Brito. Uma visão límpida da situação política atual colocada em um arranjo perfeito de palavras. As figuras de linguagem são ótimas e compõem um todo agradável à leitura. Além disso ampliam o significado do texto em si como em: “Mas se percebem no improviso e falta de coordenação do organismo governamental e que lhe baixam a imunidade contra organismos oportunistas que vivem em profusão no caldo parlamentar.” E, também em: “…a carga de anticorpos que carregam os recém eleitos vai baixando e o ambiente do hospital da política é propício, mais que propício, a bactérias super-resistentes.”

  6. Bem vindo de novo Fernando Brito. Longa vida e muitos excelentes textos em anos vindouros, com suas certeiras análises.

  7. Moro.o vaidoso.presuncoso nao de inocencia…correu a frente para legislar…com apoio do pig…briga fe foices no escuro!

  8. Só posso dizer que é só desgraças que virão para eles por terem tomado o planalto a fórceps e terem tantas más intenções para com o país.

  9. Acabo de ver na Globo que o Jair ingeriu ontem à noite um caldo de carne e hoje pela manhã uma gelatina. E continua usando sonda nasogástrica. Minha filha, que é enfermeira, me disse ao ouvir a noticia, que a sonda é usada quando o paciente não tem alimentação oral. Ou uma coisa ou outra. Ou ele tirou a sonda e está fazendo alimentação oral, ou não introduziu alimentação oral e continua com a sonda. Neste caso, eles estão mentindo atabalhoadamente.

  10. :: * * * * 04:13 * * * * * : Elles (Ou Mal lutar é lutar mal)

    Nunca se viu povo tão idiota
    militando contra a própria sorte!…
    Mesmo toda paciência se esgota
    quando os “fracos” idolatram o “forte”.

    E ainda esperam alguma cota…
    Coitados! Que o tempo não lhes corte
    a memória em meio à tal rota
    da vida indo ainda mais para a morte…
    ……………………………. Cláudio Carvalho Fernandes
    ……………………………. (Poeta (anarcoexistencialista))
    Poema dedicado ao eleiTORADO brasileño, no pós-eleições de 2018…
    :.:
    Poema “Z”
    Para Dilma, Lula e o PT e todos/as os/as progressistas do mundo inteiro. Sinta-se homenageado/a, também.

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    ReXisto

    :.:

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