A linha explosiva da epidemia

No seu depoimento ao Senado, ainda em curso quando escrevo, o cidadão que ocupa o Ministério da Saúde, Nélson Teich, só uma vez vi ser veemente: quando tratou de rebater as previsões do Imperial College of Medicine, de Londres, que previu, na melhor das hipóteses, 44 mil mortes aqui por conta do novo coronavírus.

É claro que, quando foi feita – há mais de um mês – se tratava da aplicação de um modelo matemático. Agora, mesmo com a precariedade dos números, a escassez notória de testes e de demora absurda na conclusão de seus resultados, já há números suficientemente expressivos para que se analise – com as devidas ressalvas de que pode ser bem pior – a trajetória da epidemia aqui.

Usei os números oficiais do Ministério da Saúde e, em lugar de comparar casos diários, usei o mesmo método dos epidemiologistas, que é agrupar por semanas, para minimizar razoavelmente as variações diárias.

O resultado é apavorante.

Do dia 16 de abril, quinta-feira, até quarta, 22 de abril, a média diária de casos novos foi de 2.491 por dia, Na semana seguinte, de 23 de abril até hoje, 29, esta média de novas confirmações de infecção pelo Covid-19 subiu para 4.629. Média, não considerando que o número hoje passa de 6.200.

Comparadas apenas as médias, o aumento de semana para semana é de 86%, o que leva – se não houver ampliação nos testes miseramente aplicados hoje – a um acréscimo médio de 8.602 casos diários de amanhã até o dia 6 de maio. O que dá, em números redondos, 60 mil novos casos até aquele dia. Repita-se, se a velocidade de expansão não aumentar, como vem acontecendo.

No total, portanto, somando aos casos existentes hoje, teremos 140 mil infectados e, com a taxa de mortalidade de 7% que temos agora, isso significa 10 mil mortos.

40 Brumadinhos. 53 aviões comerciais como aquele que se incendiou em Congonhas.

Isso, infelizmente, é uma suposição onírica, que desconsidera o esgotamento dos recursos médicos e o próprio caráter exponencial da expansão da pandemia e declarações como a do secretário de Saúde do Rio de Janeiro, dizendo que a epidemia entrou em “explosão descontrolada”.

Não é nenhum exagero achar que, daqui a uma semana, chegue perto de 20 mil o número de mortes e, infelizmente, um processo de expansão que poderá durar ainda por diversas semanas.

A referência mais próxima que temos – e muito menos grave, graças ao intenso respeito ao isolamento social e à relativa abundância de meios de suporte à vida que aqui nos faltam, são os Estados Unidos, que chegaram a 61 mil mortes, que continuam avançando à razão de duas mil por dia.

Não se trata de terrorismo; o terror corre por conta da realidade que está presente diante dos olhos de todos os que quiserem ver.

Duas semanas atrás alguém diria que passaríamos a China em número de mortos?

Pois podemos, em uma mera semana, passarmos do nono para o sexto lugar em quantidade de óbitos e, talvez, até o fim de maio, o segundo, logo após o nosso “grande irmão do norte”.

Mas, “e daí?”…

 

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