A Justiça que é caso de polícia e a polícia que é caso de milícia

O El País publica hoje trechos do documento deixado pela ex-procuradora geral da República, Raquel Dodge, no qual ela pede a federalização da investigação sobre os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, por acreditar que há “uma relação de promiscuidade entre as forças de segurança e os milicianos que impede que se chegue aos mandantes do crime”.

E cita como exemplo a tentativa de “compra” pelo delegado Giniton Lages, primeiro responsável pelas investigações da confissão do miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, para que este assumisse ter sido contratado pelo vereador Marcelo Siciliano para matar Marielle.

A coisa é mais grave: um mês antes do assassinato, o Rio havia sido colocado sob intervenção militar na área de segurança pública. Portanto, os militares poderiam escolher quem bem quisessem para conduzir a investigação do crime e ainda tiveram nove meses para acompanhar como elas se desenvolviam.

Mas Dodge tem razão em diferenciar: a autoria material, aparentemente, parece estar razoavelmente esclarecida, com as prisões de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, além da apreensão de 117 fuzis, mas a investigação sobre os mandantes – ou o “quem mandou matar Marielle”, no dia 14 de março.

Mera coincidência que Lessa morasse a três casas de distância da casa presidencial? Pode ser, claro, embora seja inverossímil que os serviços de inteligência do Governo não tenham detectado que havia, a menos de 100 m do presidente, um sujeito envolvido em tiroteios, segurança de bicheiros e até uma explosão de bomba, que o mutilou.

De qualquer forma, ao menos daí em diante, os cuidados deveriam ser decuplicados, ainda mais sendo públicos e notórios os laços que ligavam a família presidencial e policiais acusados de integrar milícias.

Mas não foram.

Igor Mello, do UOL, narra a estranhíssima chegada ao inquérito da planilha de entradas de veículos e das gravações da portaria para os condôminos no dia do crime.

A planilha só foi parar na polícia há dias, quando se encontrou no telefone da mulher de Ronnie Lessa uma foto do documento, enviada ao suposto matador como aviso para que cuidasse daquela anotação comprometedora. Comparada ao livro de entradas, conferia. Mas, conta Igor, não recolheram o registro de chamada nem os áudios:

Alguns dias depois, o administrador do Vivendas da Barra entregou voluntariamente uma mídia contendo as gravações feitas pelo sistema de interfone do condomínio. Ao comparar os áudios com o livro, foi constatado que os registros eram similares. Porém, não havia registro da ligação para a casa de Bolsonaro. Por outro lado, foi encontrado um áudio de Ronnie Lessa autorizando a entrada de Élcio.

Na Folha, Ana Luiza Albuquerque e Italo Nogueira dão as datas exatas: o livro de entradas foi apreendido no dia 5 de outubro e o arquivo com o registro das chamadas e o áudio, oferecido espontaneamente no dia 7, em cópia.

Portanto, a perícia foi feita em uma cópia e não nos registros originais do programa de telefonia. Pode ser fiel, claro, mas só o original daria certeza e este não foi arrecadado.

Por que a Globo não pediu isso? Será que o porteiro não sabia que as ligações eram gravadas? Duvidoso que os controladores da portaria não soubessem, até porque se conteriam de qualquer comentário que lhes pudesse dar uma “justa causa”.

Mas o império, ao que parece assustado com a reação de Bolsonaro ameaçando cassar sua concessão, escafedeu-se do tema. Nem notinhas.

A pontas soltas desta história estranhas estão aí e não faltaria capacidade aos profissionais da Globo para levantá-las.

Se a Globo não tinha suporte para soltar uma bomba como a que soltou, não a soltasse até ter certeza, como compete ao bom jornalismo.

Se tem e o esconde, é tão grave quanto.

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5 respostas

  1. Sr.Fernando.Isso seria impossível,no que tange aos PROFISSIONAIS JORNALISTAS,por uma simples razão,O JORNALISMO,DESDE SUA INVENÇÃO,nunca passou de expressar,O QUE MANDA O PATRÃO.Então,não foram as ameaças do BÓSTA-NARO,que fez com que ficassem quietos,e sim,ORDENS PATRONAIS.Hoje se nota alguma independência “JORNALISTICA”,em face da existência da INTERNET,mas até ali…

  2. Ora…a Globo.
    A Globo é um câncer com metástase que tem matado sistematicamente as chances deste país se tornar decente e justo. Tanto fez, que hoje a esquerda lhe sabe tendenciosa, manipluladora e mentirosa, e a extrema direita tresloucada a considera petista.

  3. A rede golpe só soltou o osso do furo que deu, pela ameaça que não esperava levar. Agora os outros “veiculos midiáticos” podem e DEVEM terminar o serviço !
    Se o bozo aguentar até 2022 aí a coisa ficará “dura” para a rede golpe de sonegação. Única saída a vista é passar o ponto : já tem gente esfregando as “mãozinhas”… E continuo acreditando que para nós (pessoas mortais) a me*da vai continuar a mesma (em termos de desinformação e manipulação) -> vejam a editora abril / (in)veja…

  4. Grave?
    Por quê?
    A Globo, desde sempre quer dinheiro, grana, de preferência suja…
    Falando sério….Existe alguém, são, que não saiba disso?

  5. Isso teria sido evitado se Cabral estivesse a bordo de um Titanic da vida, mas não, o miserável chegou até aqui e por isso 22/04/1500 ficou marcado como o começo do fim.

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