A História pula fogueiras

fogueira

Luís Fernando Veríssimo, em sua coluna dominical em O Globo, faz um registro muito bom para a turma que anda querendo a volta de um regime autoritário saber o que é a “liberdade de imprensa” desta turma.

O nome de Brizola foi omitido de uma geração – a minha – e, entretanto, ele pulou a fogueira das liberdades e do tempo, como a foto genial do Guina Ramos – leia sobre ela aqui – registra nem tão metaforicamente.

Mas prevaleceu o que Brizola sempre amou e reverenciou: a memória popular.

Era o “fio da História”, como se referia sempre ele ao tratar da tesoura com que a direita mais autoritária tentava fazer cortar a caminhada inevitável  de um país que tem destino próprio e  de um povo que deseja justiça.

Como agora tenta, de novo.

E à fogueira, outra vez, a História pulará, como o faz desde o tempo da Inquisição.

O i-mencionável

Luiz Fernando Veríssimo, em O Globo

Da série “Quem diria?”.

Comecei a ter um espaço assinado no jornal em 1969, na chamada “época brava” da ditadura. Governo Médici, censura à imprensa… Tudo o que tem gente desfilando hoje para trazer de volta. A gente vivia testando os limites do que podia ser dito. Não era raro escrever-­se crônicas que, obviamente, não seriam publicadas, só para desabafar. Nestes casos, tinha-­se sempre uma crônica de reserva, sobre a vida sexual dos anjos, para substituir a censurada. Apelava-­se muito para metáforas, na esperança de que os leitores entendessem as referências veladas à repressão, o que quase nunca acontecia. Alguns limites do permitido eram claros. Críticas ao governo ou a militares, nem pensar, por exemplo. Outros limites eram menos explícitos. Certa vez, proibiram uma crônica minha para o rádio porque comentava a Teoria de Darwin sobre a evolução das espécies, que, tantos anos depois da sua publicação, não teria mais nada de subversiva. Nunca entendi. Talvez a teoria da evolução lembrasse macacos, macacos  lembrassem gorilas, e gorilas lembrassem, metaforicamente, generais. Enfim, os tempos eram assim.

O que, definitivamente, não podia era mencionar certos nomes. Dom Hélder Câmara, jamais. E mais grave ainda: Brizola. Se pudesse, a ditadura não só proibiria que se pronunciasse o nome Brizola em todo o território nacional, como invadiria o cartório em que seu nascimento foi registrado e queimaria tudo, apagando qualquer traço da sua existência. Ou mandaria exterminadores ao passado para eliminar sua ascendência por várias gerações. No fim, sua existência não pôde mais ser negada, e a ditadura permitiu sua volta ao Brasil e à sua carreira. E o perigoso agitador, a alternativa armada e voluntariosa à moderação do Jango, o fantasma que assombrou os generais durante tanto tempo, o i­mencionável Brizola, ainda teve uma respeitável sobrevida política.

Há dias o nome de Brizola foi incluído, quem diria, no Livro dos Heróis da Pátria, no Panteão da Pátria e da Liberdade. Brizola finalmente mencionado, com honras.

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10 respostas

  1. Nesses tempos bicudos onde a insensatez é a marca dominante cada vez mais agiganta-se a figura de Brizola.
    É lamentável que Dilma não lhe siga os passos, titubeando ante o ataque diuturno dos que almejam a volta da corrupção, convenientemente escondida pelo inesquecível Engavetador Geral de FHC, da submissão do trabalhador brasileiro, do salário mínimo indigno e da entrega do patrimônio nacional ao exterior.
    Para as mentes colonizadas os governos populares devem ser combatidos pois pretendem um Brasil dos e para os brasileiros. Isso é inaceitável.
    A Petrobras, empresa icônica dessa luta, é combatida desde Getúlio Vargas, quando os “irmãos do norte” diziam que por aqui não havia petróleo. Vemos hoje que nada mudou, a camarilha entreguista segue vociferante.
    A turma de FHC, que um dia disse que o “7 de setembro era uma palhaçada”, quer nossas FFAA à mingua como nos tempos dos “heróis da pátria” que gritam diariamente contra o governo federal.
    O Brasil deve ser sempre uma colônia, para essas mentes deterioradas pelo cinismo, sem condições de defender suas riquezas.
    E Brizola é um dos maiores lutadores, lúcido e destemido, na defesa de nosso país e seu povo.
    Impossível diminuir-lhe a grandeza, visto que os próprios adversários de então reconhecem sua integridade e honestidade pois nunca foi acusado de qualquer malfeito.
    Hoje a matilha faminta pela boca do cofre diariamente inventa todo tipo de mentiras, vazamentos caluniosos e “investigações” sem qualquer base para atacar Lula/Dilma e seus assessores próximos. Wagner é a bola da vez.

  2. Há um descontentamento geral dos candidatos. com as notas da redação do ENEM 2015.
    A repercussão sobre o tema da redação é ainda inaceitável para muitos machistas da nossa sociedade.
    As notas divulgadas, sexta, das redações geraram muita insatisfação dos candidatos, principalmente, do Sul e Sudeste do país.
    Não é de duvidar que muitos examinadores, enraízados no ódio e preconceito contra a mulher e o tema, tenham atribuído notas baixas para os candidatos, que não fugiram do tema.
    Coxinha machista é o que mais tem por aí tem muito examinador que não escapa disso…
    Isso deveria ser debatido, Fernando Brito.
    Fazer um tema excelente e não preparar os examinadores para a correção justa, livre de preconceitos históricos, dá nisso.

  3. Foi uma honra ter podido registrar, como fotojornalista, esta figura política tão fundamental para o Brasil, entre outras, que foi Leonel Brizola. É certamente um dos heróis da nossa pátria, e o declaro, ainda que concorde com o conceito de que uma pátria não deveria necessitar de heróis. Sim, que o povo seja o suficiente herói de uma pátria justa!… Mas, o que se vê em excesso no Brasil é a apropriação do discurso de “defesa da pátria” para, muito pelo contrário, tentar entregá-la ou atrelá-la aos interesses das potências estrangeiras, e estão aí tantas vozes fazendo esse serviço sujo no momento… Se há algo de que não se pode acusar Brizola é de ter sido um entreguista, e só isso, diante dos poderes que se voltaram contra ele, já o coloca na condição de Herói da Pátria brasileira, sim!

  4. Agora imaginem se a canalha retorna ao poder. Retirarão dois nomes do panteão de heróis nacionais: Brizola e Vargas. E darão um jeito de que outro nome jamais chegue lá, como é merecido: Luiz Inácio Lula da Silva.

  5. como mesmo já mostrou Zé de Abreu, essa coisa de dita dura é invenção da turma serrista pra tentar aliviar a covardia dele de fugir. Depois, Brizola teve até mais espaço do que Lula e só não chegou a mais por pura incompetência

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